Instituída no ano de 1978, quando foi declarada de utilidade pública e oficializada pelo Decreto de 6 de fevereiro de 2001, a Estação Ecológica de Aiuaba (ESEC), no Sertão dos Inhamuns, poderá parar as atividades devido ao abandono. Com uma área de 11.525,3 hectares de mata nativa do Bioma Caatinga do Nordeste Brasileiro, a estação não tem recebido recursos do Governo Federal para a manutenção do órgão ambiental.
A ESEC perfaz um perímetro de aproximadamente 72,11 km, está inserida integralmente dentro do município de Aiuaba. Foi criada com o objetivo de proteger o Bioma Caatinga, propiciar a pesquisa científica e desenvolver programas de educação ambiental.
Assume uma grande importância ecológica por ser a maior de conservação do Bioma Caatinga coberta integralmente com floresta de Caatinga-Arbórea, exercendo influência na manutenção da biodiversidade florística e faunística desse bioma, além de representar um importante papel no ciclo hidrológico da região, devido a sua cobertura florestal densa. A ESEC atrai estudantes e pesquisadores de várias universidades do país e do exterior.
O órgão realiza atividades de educação e proteção ambiental, como: prevenção e combate a incêndios florestais, produção de mudas nativas para o reflorestamento da mata ciliar, arborização urbana e equilíbrio de ecossistemas, bem como promove o voluntariado.
A Estação possui boa infraestrutura, com sede contendo 03 casas funcionais, 04 alojamentos, cozinha, refeitório, auditório, escritórios, biblioteca, laboratório, banheiros e garagem. Dispõe ainda de duas bases de apoio, nos sítios Gameleira e cajueiro. Porém, a falta de recursos tem impossibilitado o desenvolvimento das atividades.
Sem dinheiro
De acordo com o técnico administrativo da ESEC, e responsável pela mesma, Honório Miguel Arraes, a situação é crítica. Ele enfatiza que a instituição está passando por diversos problemas, sendo o principal a ausência de repasses do Governo Federal.
Honório afirma que assumiu a responsabilidade pela Estação há três anos, e que nesse período não foi destinado nenhum valor oriundo do Governo Federal para manutenção e funcionamento do órgão ambiental, além de um pequeno recurso, através do Instituto Chico Mendes da Biodiversidade, destinado exclusivamente para o abastecimento dos carros, e mesmo assim, a cota é muito reduzida, insuficiente para realizar o trabalho de fiscalização constante em todo o entorno da Estação.
“Antes mandavam R$ 500,00 (quinhentos reais), hoje está vindo apenas R$ 200,00 (duzentos reais).
E isso é tudo que estamos recebendo do Governo para o combustível, e mais nada. É uma situação que considero aberrante, se considerarmos o tamanho da área que temos que percorrer para realizar uma fiscalização eficaz, os veículos que temos e o preço dos combustíveis”, disse, complementando que faltam recursos até mesmo para a compra de material de limpeza e para mandar lavar roupas de cama, mesa e banho, despesa que tem custeado do próprio bolso, lembrando que a ESEC recebe constantemente visitantes e pesquisadores que ocupam os alojamentos e merecem usufruir do mínimo de conforto.
Arraes aponta ainda outros fatores que comprometem o funcionamento da Estação, dentre eles a pouca quantidade de funcionários. O posto de apoio do Sítio Gameleira, distante 42 km da sede da instituição, conforme aponta o responsável, foi desativado há dois anos, e está sem vigilante.
Isso tem trago preocupações porque a casa da base de apoio fechada tem possibilitado a invasão de caçadores, que agem criminalmente matando de maneira indiscriminada muitas aves, além de invasores que adentram na estação para roubar madeira. A presença do vigilante inibia essas ações.
A pequena quantidade de funcionários também inibe o trabalho da Estação Ecológica. Para fiscalizar toda a área de mais de onze mil hectares da mesma, só há dois funcionários do Instituto Chico Mendes- ICMBio, explica Honório, identificando ele mesmo e outro colega auxiliar. “A destruição da fauna e da flora dentro da ESEC tem sido constante.
Isso nos entristece, porque estamos lutando, colocando recursos do próprio bolso para fazer o mínimo possível. A Caatinga para nós é vida, é a alma do nosso sertão. E a gente vê nas grandes mídias o Governo discursar sobre a importância do meio ambiente, e na prática a realidade é diferente. O que temos visto? Desastres ambientais de grande proporção e impacto na vida futura, e descasos como este que estamos vivendo aqui em Aiuaba. Ou será que o sertão não é também Brasil?” desabafa Honório. (Com reportagem de Amaury Alencar).
Ambientalistas preocupados em manter patrimônio
O secretário executivo do Pacto ambiental da região dos inhamuns, Jorge de Moura, afirma que vê com bastante preocupação o estado de abandono da estação ecológica de Aiuaba. “Isso reflete na falta de compromisso do governo federal com o seu patrimônio. O pacto irá neste sentido se mobilizar em busca do apoio da mídia para mostrar a situação da estação ecológica, que hoje é o retrato das estações de todo o Brasil. Ficamos profundamente revoltados com essa situação de abandono, isso é um sinal de falta de compromisso do governo com o meio ambiente”, lamenta.
“Não é admissível que servidores tenham que custear de seu próprio bolso despesas com a estação ecológica para mantê-la funcionando. Vamos, também mobilizar a sociedade de Aiuaba, para que possamos fazer uma audiência pública e levar todas as instituições ambientalistas para formalizarmos a população o estado de abandono, que está a estação ecológica”, defende.
Já a ambientalista Benilda Calixto afirmou que a estação ecológica de Aiuaba é, hoje, um patrimônio do povo do Nordeste, que hoje está sendo relegada ao abandono. “A população de Aiuaba está revoltada com o que está acontecendo. Estão destruindo o nosso pulmão verde, e infelizmente os servidores que trabalham na estação não tem como evitar a retirada ilegal de madeira e a ação dos caçadores que estão, aproveitando o posto do sítio gameleira que fica a 42 km da sede para cometerem crimes ambientais e destruir toda a nossa fauna e flora”, afirma.
O.E.