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Violência física ainda é usada por 29% dos brasileiros para disciplinar crianças

Embora apenas uma parcela da população considere eficaz o uso de agressões físicas como forma de correção, o comportamento ainda é comum no Brasil. Segundo um levantamento da Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal, realizado em parceria com o Instituto Datafolha, 29% dos brasileiros admitem aplicar palmadas, beliscões ou apertos em crianças. No Nordeste, esse índice chega a 31%.

O estudo, intitulado “Panorama da Primeira Infância: o que o Brasil sabe, vive e pensa sobre os primeiros seis anos de vida”, foi realizado com 2.206 pessoas em todas as regiões do país. Entre os participantes, 822 são responsáveis diretos por crianças de até seis anos, faixa etária que compreende a primeira infância.

Apesar da baixa adesão declarada à eficácia da punição física — 20% entre a população geral e 17% entre os responsáveis —, o uso do método ainda prevalece entre os entrevistados. Com isso, o dado revela uma divergência entre o que se acredita e o que se pratica.

Outros comportamentos também foram mapeados. Entre os entrevistados da região Nordeste, 48% relataram gritar ou discutir com frequência com a criança. Já 47% afirmaram que costumam fazer ameaças verbais, como retirada de privilégios ou advertências. Ambos os percentuais superam a média nacional de 43%.

Violência física ainda é usada por 29% dos brasileiros para disciplinar crianças
Foto: Shutterstock

Em contrapartida, estratégias de diálogo e mediação são majoritariamente adotadas. A maioria afirma utilizar abordagens como explicação do erro (95%) e retirada da criança da situação de conflito (94%).

A pesquisa também investigou as percepções sobre os efeitos da violência física. Entre os que recorrem a esse tipo de correção, 40% acreditam que ela contribui para o respeito à autoridade. Outros 33% identificam consequências negativas, como o surgimento de comportamentos agressivos.

Diferenças de gênero e escolaridade também foram observadas pela pesquisa. Homens com ensino fundamental concentram o maior percentual de apoio à punição física como estratégia disciplinar. Entre as mulheres responsáveis por crianças, 47% relacionam esse tipo de conduta a atitudes agressivas. Além disso, 31% delas apontam dificuldades no relacionamento infantil como consequência da violência, proporção superior à dos homens, que registram 21%.

Outro dado revelado pelo levantamento é o desconhecimento sobre a importância da primeira infância. Apenas 15% dos entrevistados consideram essa etapa como a mais decisiva para o desenvolvimento humano. Para 41%, esse processo ocorre na fase adulta, enquanto 25% apontam a adolescência. Outros 84% não consideram que os primeiros nos de vida impactam no desenvolvimento.

Para a diretora de Sensibilização da Sociedade da Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal, Paula Perim, é necessário combater a ideia de que a violência é uma demonstração de cuidado. Segundo ela, a repetição de informações e o fortalecimento de políticas públicas são essenciais para enfrentar a naturalização dessas práticas.

“Políticas públicas e a legislação, como a Lei Menino Bernardo (antes conhecida como Lei da Palmada), ajudam a chamar atenção para a discussão. Acho que é mais conseguindo explicar o impacto e repetindo. A mudança cultural só vai acontecer com repetição”, comentou.

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