A decisão dos Estados Unidos de aplicar uma tarifa adicional de 50% a produtos brasileiros impacta diretamente a economia cearense ao atingir itens centrais da pauta de exportações do Estado. Produtos como pescados, frutas, castanha de caju, cera de carnaúba, mel e água de coco estão entre os mais afetados.
Nesse sentido, os presidentes da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec), Ricardo Cavalcante, e da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado do Ceará (Faec), Amílcar Silveira, apresentaram os primeiros impactos da medida e cobraram ações concretas para evitar um colapso nas cadeias produtivas locais.

De acordo com dados divulgados pelas entidades, as exportações cearenses totalizaram US$ 1,07 bilhão no primeiro semestre de 2025. Os Estados Unidos responderam por cerca de US$ 544 milhões desse volume, sendo 76% provenientes do setor siderúrgico. Os demais 24%, equivalentes a aproximadamente US$ 130 milhões, concentram-se justamente nos produtos atingidos pela tarifa, a maioria deles de origem agroindustrial.
Empregos e Cadeia Produtiva
“Estamos falando de cadeias longas e intensivas de mão de obra. Só o setor de pescados envolve cerca de 70 mil pessoas no Ceará, entre embarcações, pescadores e pessoal em terra. A castanha de caju emprega mais de 50 mil pessoas. A cera de carnaúba movimenta 170 mil. É uma engrenagem que pode parar”, pontuou Ricardo.

A estimativa da Confederação Nacional da Indústria (CNI) aponta que, em nível nacional, até 110 mil empregos podem ser perdidos. No Ceará, o impacto inicial é calculado em aproximadamente oito mil vagas. Nesse contexto, as lideranças defenderam uma resposta coordenada, com medidas emergenciais e planejamento estratégico.
Primeiras Ações
Um pacote emergencial de incentivos fiscais e apoio financeiro, aprovado nesta quarta-feira (06/08) pela Assembleia Legislativa do Ceará (Alece), deve oferecer algum alívio às empresas atingidas. O presidente da Fiec, por sua vez, foi enfático ao cobrar ações equivalentes por parte da União.
“É uma resposta importante, fruto da mobilização conjunta da Fiec e da Faec. Mas a gente precisa de mais, assim como também precisamos urgentemente de ações federais. Esperamos que o Governo Federal aja com a mesma velocidade com que agiu o Governo do Ceará”, comentou.
Entre as demandas encaminhadas ao Governo Federal estão: a reativação do Reintegra (programa que devolve tributos de exportações), a flexibilização do acesso a operações como as Antecipações de Crédito de Câmbio (ACCs) e a liberação mais rápida de créditos de Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI).
De acordo com o presidente da Faec, as negociações diplomáticas com os Estados Unidos devem continuar com o objetivo de reduzir o alcance da tarifa. “As negociações não podem parar. É preciso trabalhar para que mais produtos fiquem de fora dessa sobretaxa dos EUA. Portanto, precisamos de tranquilidade e habilidade na condução dessas tratativas”, disse.
Queda nas Exportações
Segundo levantamento da Fiec, ao menos 20 contêineres de castanha de caju deixaram de ser embarcados, além de volumes de pescado. Em relação ao agronegócio, em 2025, o setor vinha registrando alta de 25%, com expectativa de alcançar US$ 1 bilhão até 2030.

“Precisamos pensar de forma integrada. Indústria e agricultura precisam caminhar juntos para diversificar e fortalecer nossas exportações. (…) O mais urgente é preservar os empregos. Está em jogo o sustento de milhares de famílias cearenses”, destacou Amílcar.
Alternativas
Diante da urgência, a Fiec passou a mobilizar seu centro de inteligência, o Observatório da Indústria do Ceará, para mapear mercados alternativos e orientar as empresas sobre possíveis redirecionamentos. No entanto, segundo as entidades, as exigências sanitárias de países importadores dificultam uma mudança imediata de destino das exportações, especialmente no caso de alimentos.
Uma das estratégias em negociação com o Governo do Estado é o redirecionamento da produção ao consumo interno. Está em debate a inclusão de itens como peixes, castanhas, sucos e água de coco nos programas estaduais de merenda escolar e alimentação hospitalar. Essa seria uma forma de absorver o excedente não exportado.

Além das medidas institucionais, Fiec e Faec destacaram que a compra de produtos locais por parte dos consumidores é um fator relevante para ajudar a minimizar os impactos econômicos da sobretaxa. “Não se trata de defender apenas a indústria ou o agronegócio. É a economia do Ceará que está sob risco. É a renda de milhares de trabalhadores que pode desaparecer. Estamos fazendo nossa parte, mas precisamos de respostas rápidas e eficazes”, reforçou.
Acompanhe mais notícias da Rede ANC através do Instagram, Spotify ou da Rádio ANC.