Um estudo pioneiro no Brasil revelou que a proporção de ancestralidade asiática ou africana pode afetar o risco de desenvolvimento de câncer colorretal. A pesquisa, considerada a maior do país voltada à compreensão dos fatores genéticos ligados à doença, analisou cerca de dois mil voluntários de diferentes estados brasileiros entre 2001 e 2020. Os resultados foram publicados na edição de junho do JCO Global Oncology, periódico da Sociedade Americana de Oncologia Clínica.
Diferentemente de estudos anteriores, que analisam populações de menor diversidade genética, a pesquisa destacou a importância de considerar a ancestralidade em uma população altamente miscigenada como a brasileira. “Esse achado é crucial, pois a maioria dos estudos genéticos se concentra em populações de origem puramente europeia ou asiática e nossos resultados mostram que o perfil de risco genético na nossa população tem particularidades que precisam ser consideradas”, explica o pesquisador Howard Lopes.
Metodologia e Resultados
O estudo incluiu 906 pacientes com diagnóstico de câncer colorretal e 906 indivíduos do grupo de controle, sem a doença. Para garantir comparações precisas, os grupos foram pareados por idade e gênero, e voluntários com histórico familiar de câncer colorretal hereditário foram excluídos. Além disso, a amostra incluiu pessoas de diferentes regiões do país, garantindo a representatividade geográfica e genética.
De cada participante, foram coletados cerca de 5 ml de sangue, processados e armazenados no Biobanco do Hospital de Câncer de Barretos, que reúne amostras e dados de pacientes de todo o Brasil. Os pesquisadores investigaram variações genéticas conhecidas como polimorfismos de nucleotídeo único (SNPs), com foco em 45 polimorfismos associados ao câncer colorretal.

“Em nossa pesquisa, descobrimos que pequenas variações no nosso código genético (DNA), que funcionam como trocas de letras em um texto, podem aumentar ou diminuir o risco de uma pessoa desenvolver câncer colorretal. Validamos, especificamente para a população brasileira, a importância de quatro dessas variações genéticas, sendo que duas foram associadas a uma chance significativamente maior de desenvolver a doença e outras duas oferecem um efeito protetor”, explicou Howard.
Os resultados mostraram que indivíduos com menor proporção de ancestralidade asiática apresentaram 48% mais risco de desenvolver a doença, enquanto aqueles com menor contribuição africana tiveram 22% mais chances de serem acometidos. Já a ancestralidade ameríndia intermediária apresentou efeito protetor.
Além de identificar fatores de risco, o estudo pretende orientar políticas públicas mais direcionadas, como a realização de colonoscopias de forma precoce ou frequente para grupos suscetíveis. O estudo contou com colaboração de pesquisadores do Hospital de Câncer de Barretos, do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (ICESP) e da Universidade do Minho, em Portugal.
Os autores principais são Ana Carolina de Carvalho e Ana Carolina Laus, do Centro de Pesquisa em Oncologia Molecular (CPOM) do Hospital de Câncer de Barretos, em São Paulo; Rui Manuel Reis, diretor do CPOM e professor da Universidade do Minho, em Portugal; e Howard Ribeiro Lopes Junior, do Departamento de Morfologia da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará (UFC).
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