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Ceará já soma 45 cirurgias fetais de correção da coluna pelo SUS

A Maternidade-Escola Assis Chateaubriand (MEAC), do Complexo Hospitalar da Universidade Federal do Ceará (CH-UFC), soma 45 cirurgias de correção intrauterina de meningomielocele (MMC) realizadas pelo Sistema Único de Saúde (SUS) desde 2019. O procedimento, inédito no Estado e disponível apenas na unidade, busca tratar ainda na gestação uma das malformações mais graves do tubo neural, capaz de provocar paralisia, hidrocefalia e outras complicações neurológicas.

O primeiro caso no Ceará foi realizado em 2019. Desde então, a MEAC passou a oferecer a técnica, que consiste na correção da coluna do bebê dentro do útero materno. A unidade é vinculada à Rede Ebserh e referência no atendimento materno-fetal de médio e alto riscos. “Esse procedimento consiste na correção da malformação da coluna vertebral ainda no ventre materno, durante a gestação. Nele, temos acesso ao feto por incisão no útero materno (chamada a céu aberto)”, explica o chefe do Serviço de Cirurgia e Medicina Fetal da MEAC-UFC/Ebserh, Herlânio Costa.

A intervenção é indicada entre a 19ª e a 26ª semanas de gestação e envolve equipe multiprofissional formada por especialistas em medicina fetal e neurocirurgiões pediátricos. A confirmação da malformação costuma ocorrer a partir da 15ª/16ª semana, embora o ultrassom morfológico do primeiro trimestre (entre a 11ª e a 14ª semana) já possa apontar sinais indiretos.

Ceará já soma 45 cirurgias fetais de correção da coluna pelo SUS
Foto: Victor Hudson/Comunicação Ebserh

Na prática, muitos diagnósticos só são feitos no exame morfológico do segundo trimestre (20ª a 24ª semana), o que reduz a margem para realização da cirurgia antes do limite de 26 semanas. Em 2025, a MEAC já contabiliza oito cirurgias, com média superior a uma por mês. Segundo Herlânio, há ainda a capacidade de realizar dois ou mais procedimentos mensais.

Impactos e Acompanhamento

Os resultados da cirurgia intrauterina demonstram avanços na qualidade de vida das crianças. Estudos indicam que a chance de andar sem órteses ou próteses pode dobrar, passando de 40% para 80%. A necessidade de cadeira de rodas cai pela metade e o risco de hidrocefalia com necessidade de válvula de derivação diminui de 80% para cerca de 40%.

Após o procedimento, a gestante passa a ser acompanhada em ambulatórios de Medicina Fetal ou de Gestação de Alto Risco, devido ao risco de parto prematuro. Também são prescritas medicações preventivas e realizados ultrassons periódicos para monitorar tanto o sistema nervoso do bebê quanto as incisões no útero materno.

Além da assistência, o serviço impacta ensino e pesquisa, ao integrar áreas como obstetrícia, neurocirurgia, anestesia, neonatologia, enfermagem e fisioterapia. O trabalho também contribui para a formação prática de acadêmicos e residentes, além de estimular a produção científica e a divulgação de resultados.

Acesso ao Tratamento

O encaminhamento para a cirurgia ocorre exclusivamente pelo SUS. A paciente passa por avaliação diagnóstica e, caso confirmada a indicação, a operação é agendada conforme a regulação municipal e institucional. Não há ambulatório exclusivo para esse tipo de cirurgia, mas o acompanhamento é feito pela equipe multiprofissional da Medicina Materno-Fetal, responsável por gestações de alto risco.

Ceará já soma 45 cirurgias fetais de correção da coluna pelo SUS
Foto: Victor Hudson/Comunicação Ebserh

Para Edson Lucena, gerente de Atenção à Saúde da MEAC/Ebserh, a disponibilização do procedimento pelo SUS representa um avanço na assistência às gestantes. “A cirurgia reduz a necessidade de derivação ventricular, melhora a função motora e favorece maior autonomia às crianças. Apesar de ser uma tecnologia de alta complexidade disponível no SUS, não é amplamente ofertada no país, estando restrita a centros habilitados. No Ceará, até o momento, apenas a MEAC realiza o procedimento pelo SUS”, destaca.

Prevenção

Herlânio Costa reforça que a mielomeningocele pode ser prevenida em grande parte dos casos com o uso de ácido fólico nos meses anteriores à gestação. O ultrassom morfológico também é recomendado para possíveis diagnósticos precoces e encaminhamentos em tempo hábil. “O ideal é que toda mulher passe por consulta pré-concepcional para receber orientações”, conclui.

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