
O Ceará tem potencial para se transformar no segundo maior centro de data centers do País com a implantação de novos projetos no Complexo Industrial do Porto do Pecém, localizado em Caucaia, na Região Metropolitana de Fortaleza.
O complexo vai abrigar um data center da Casa dos Ventos, referência na geração de energia renovável, com aporte estimado em R$ 150 milhões. A instalação será construída na Zona de Processamento de Exportação (ZPE), com previsão de início das obras até dezembro.
A ZPE também despertou o interesse de pelo menos outras cinco empresas do setor, conforme informou Fábio Feijó, diretor-presidente da ZPE Ceará.
Empresas estrangeiras apresentaram propostas para implantar data centers de hiperescala, com capacidade de lidar com enormes volumes de informações, como os utilizados por gigantes como Google, Facebook e Amazon. Os projetos são voltados para operações que exigem alta performance computacional.
Essas iniciativas estão em fase de análise e a expectativa é que grande parte delas seja definida até o primeiro semestre de 2026, segundo Feijó. “Estamos analisando as ofertas, mas o mais importante disso é que entramos no mapa mundial dos data centers”, afirma.
“Antigamente, a gente via empresas de data center do Brasil, mas quem está nos procurando são empresas internacionais, até porque a legislação exige que 100% do faturamento na ZPE tem que ser exportado”, completa.
Caso os novos projetos se concretizem, o Ceará pode alcançar a posição de segundo maior polo de data centers do Brasil, de acordo com Rodrigo Porto, professor titular do curso de Telecomunicações da Universidade Federal do Ceará (UFC). Atualmente, o Estado fica atrás do Rio de Janeiro e de São Paulo em número de estruturas do tipo.
Mais do que a quantidade de centros de dados, o que chama atenção nas propostas recebidas pela ZPE é a escala dos empreendimentos. O especialista prevê que os novos projetos terão capacidade de acompanhar a expansão da demanda computacional e o alto desempenho exigido por tecnologias como a inteligência artificial (IA).
A chegada de novos empreendimentos de grande porte deve estimular toda a cadeia de suprimentos, com a produção local de equipamentos de ponta, segundo Rodrigo Porto.
“Há uma confluência de fatores que tornam esse cenário promissor. Há atração de investimentos em torno da cadeia da informação, com futuros cabos submarinos, outros data centers especializados. E até quem sabe a cadeia de suprimentos voltados a data centers”, aponta.
Fábio Feijó ressalta que a medida provisória nº 1307 de 2025, assinada pelo presidente Lula durante visita ao Ceará, foi essencial para viabilizar os novos investimentos.
A MP estabelece que as empresas que se instalarem em ZPEs devem operar com fontes de energia renovável. Além disso, permite que companhias prestadoras de serviços, como as de data center, se beneficiem do regime alfandegário especial.
“A medida regulamentou o que falta para a gente consolidar a atração de data centers. Temos total segurança jurídica, e isso que fez a gente começar a receber muita ligação. E algo que do melhor que isso foi a exigência de comprometimento com a energia limpa”, afirma.
Feijó também salienta que a MP elimina qualquer possibilidade de competição entre data centers e usinas de hidrogênio pela mesma fonte energética.
A ZPE estima que a exigência de fontes sustentáveis pode resultar na atração de até R$ 20 bilhões em investimentos para novos parques solares e eólicos. No entanto, especialistas alertam para a necessidade de reforço na infraestrutura de transmissão elétrica, diante da chegada de tantos projetos de grande porte.
Rodrigo Porto afirma que o avanço da conectividade no Complexo do Pecém está alinhado com as vocações naturais do Ceará nas áreas de telecomunicações e energia.
“Temos, na Praia do Futuro, os cabos submarinos e os data centers que lá estão instalados, que fazem o proveito imediado dessa infraestrutura. Esse data center de maior porte consolida essa vocação. E outra vocação é a da energia renovável, que o setor vem se desenvolvendo, somos destaques nacionais”, afirma o professor.
Data centers são infraestruturas destinadas ao processamento, armazenamento e distribuição de grandes volumes de dados.
A construção dessas unidades é disputada mundialmente e gera novas oportunidades de trabalho nas regiões onde são implantadas, segundo Eduardo Tude, presidente da Teleco, empresa de consultoria e inteligência de mercado em telecomunicações.
“Esses investimentos criam oportunidades de emprego, além de reforçar o caráter que Fortaleza já tem. Primeiro, são empregos gerados na construção dos data centers. Depois, na operação do dia a dia, precisa-se de profissionais qualificados”, aponta.
O data center bilionário da Casa dos Ventos, por exemplo, deve gerar 500 postos de trabalho diretos na fase de operação plena, com demanda por mão de obra técnica especializada. Na fase inicial das obras, a previsão é de 15 mil empregos diretos e indiretos.
A Prefeitura de Caucaia espera que o projeto estabeleça parcerias com instituições de ensino, visando à qualificação de jovens da região. O centro de dados poderá atender grandes multinacionais, como ByteDance (dona do TikTok), Google, Amazon e Apple. A estrutura contará com 10 salas de servidores, cada uma com mais de 2.000 m².
