
Aos 41 anos, a professora Sara Carolina de Barros não imaginava que poderia sofrer um Acidente Vascular Cerebral (AVC), condição frequentemente associada apenas a pessoas idosas. Ela foi atendida no fim de setembro na Unidade de AVC (UAVC) do Hospital Regional do Cariri (HRC), unidade da Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa), em Juazeiro do Norte. Sara entrou para uma estatística que chama atenção: cada vez mais o AVC tem atingido indivíduos com menos de 55 anos.
Em 2024, 21% dos pacientes internados na UAVC do HRC tinham menos de 55 anos. De janeiro a setembro de 2025, esse índice já chega a 17%. O neurologista João Igor Landim, que atua na unidade, afirma que o crescimento de casos em jovens está diretamente relacionado ao estilo de vida atual.
“A cada dia que passa, o estilo de vida contemporâneo está sendo marcado por sedentarismo, má alimentação, estresse crônico, uso de substâncias como álcool e drogas ilícitas, tabagismo e sono irregular. Isso tem contribuído significativamente para o aumento da hipertensão arterial, diabetes tipo 2, obesidade e dislipidemias, fatores de risco clássicos que têm influenciado o aumento da quantidade de AVC em jovens”, destaca o médico.
Ele acrescenta ainda que o AVC em pessoas mais jovens também pode estar ligado a outras causas não usuais, como enfermidades autoimunes e inflamatórias, doenças cardíacas estruturais, distúrbios genéticos da coagulação e uso de anticoncepcionais hormonais.
Sintomas e importância do atendimento rápido
O AVC ocorre quando há uma interrupção do fluxo sanguíneo para uma área do cérebro. Segundo o neurologista, os sinais geralmente aparecem de forma súbita, e a identificação rápida é essencial. “É uma perda de força súbita num braço, alteração de sensibilidade, visão dupla, fala arrastada ou confusa, tontura e desequilíbrio. Tudo isso deve levantar a suspeita de AVC”, orienta João Igor.
Foi exatamente o que aconteceu com Sara Carolina, conforme relata o marido da paciente, Thiago Sampaio. “Ela não sentiu nada, foi de repente. Estava deitada na cama, quando vi que ela não estava mais respondendo. Fiquei chamando: ‘Sara? Sara, responde!’, e ela só olhava pra mim, com o celular na mão. Pensei que ela estava brincando”. Thiago conta que ligou para o irmão, que é enfermeiro, que o orientou a levá-la para o hospital.
De acordo com o neurologista, há um intervalo de até quatro horas e meia para o uso de uma medicação chamada trombolítico, que desfaz o coágulo e pode evitar danos mais graves. “Quanto mais rápido o paciente chega ao hospital, maior a chance de recuperação”, destaca.
O papel da reabilitação

Após sofrer um AVC, o processo de reabilitação exerce um papel fundamental na recuperação funcional do paciente. A fisioterapeuta Lívia Landim, que atua na UAVC do HRC, acompanhou a evolução de Sara e relata que ela chegou à unidade em uma condição crítica. “Pelo AVC extenso, ela chegou tetraplégica. Só mexia os olhos. Começamos o tratamento estimulando a musculatura do tronco, prevenindo espasticidade (distúrbio neurológico que causa rigidez e tensão muscular involuntária) e mantendo o máximo de função possível”, explica.
Conforme a coordenadora do setor de Fisioterapia do HRC, Suianne Soares, é essencial iniciar a reabilitação fisioterapêutica ainda na fase inicial do AVC para reduzir as sequelas motoras dos pacientes.
“No HRC, utilizamos o protocolo de Eletroestimulação (EENM) ainda nas primeiras 24 horas de internação do paciente na UAVC, o que permite melhores desfechos na alta hospitalar. A Sara utilizou a EENM associada a outros métodos fisioterapêuticos, o que favoreceu o ganho de força muscular periférica mais rápido”, detalha Suianne, que reforça a importância de os pacientes continuarem o processo de reabilitação após a alta hospitalar para obter melhores resultados.
A fisioterapeuta Lívia Landim enfatiza que o objetivo da reabilitação é permitir o retorno do paciente à vida ativa. “Nosso papel é reintegrar esse paciente à sociedade, levá-lo de volta ao trabalho, ao lazer, à vida que tinha antes. No caso de Sara, que é professora e mãe de filhos pequenos, trabalhamos contra o tempo para promover essa retomada. E isso é importante não só com pacientes mais jovens, mas com todos”, diz. Quando Sara recebeu alta do hospital, já conseguia caminhar com auxílio. Atualmente, segue avançando na sua recuperação.
O neurologista João Igor acrescenta que a reabilitação precoce e a adoção de hábitos saudáveis são essenciais para um tratamento eficaz. “Os pacientes jovens, em geral, têm uma melhor plasticidade cerebral e tendem a se recuperar melhor dentro de um bom contexto de reabilitação. Porém, para prevenir que o AVC aconteça, é essencial controlar os fatores de risco e mudar o estilo de vida”, conclui.