
Em 2026 devem começar os primeiros testes em humanos da primeira vacina criada para prevenir o câncer de pulmão, um dos mais letais do planeta. O estudo da LungVax, como é denominado o imunizante, é desenvolvido pelas britânicas Universidade de Oxford e University College London.
Segundo estimativas do Instituto Nacional do Câncer (INCA) para o triênio 2023–2025, o câncer de pulmão é o terceiro mais frequente em homens e o quarto em mulheres no Brasil.
Em ambos os sexos, ele está entre os mais recorrentes, refletindo a exposição a fatores de risco, sendo o tabagismo o principal.
Como funciona a vacina contra câncer de pulmão?
A vacina contra o câncer de pulmão é formada por um sistema cuja tecnologia se assemelha à da vacina Oxford/AstraZeneca contra a Covid-19. O sistema atua como um vetor viral não replicante, ou seja, um vírus modificado que serve para transportar um conjunto de instruções até as células.
Segundo o G1 Saúde, o vírus leva um pequeno fragmento de DNA, onde ficam as instruções, que funciona como um comando ao orientar o organismo a produzir uma proteína chamada NY-ESO-1.
Esse fragmento costuma aparecer em células com alterações iniciais, que antecedem o câncer. Portanto, marca células que saíram de seu funcionamento habitual e passaram a acumular mutações.
Ao expor o organismo ao NY-ESO-1 antes de um problema real surgir, a vacina ensina o corpo a identificar esse movimento como algo que deve ser combatido. Assim, cria uma vigilância imunológica contínua no pulmão, capaz de detectar alterações antes de se transformarem em um tumor.
Vacina contra câncer de pulmão terá público específico
Enquanto vacinas contra câncer em desenvolvimento são usadas em pacientes que já possuem tumor, a lógica da LungVax é diferente: prevenir a reincidência da doença. Os testes deverão ser realizados em:
- pessoas que já tiveram câncer de pulmão em estágio inicial, passaram por cirurgia e têm alto risco de recidiva;
- pessoas que participam de programas de rastreamento e têm alterações pulmonares que precisam ser acompanhadas.
Renato Kfouri, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), afirmou que a definição do público-alvo da vacina, caso sua eficácia seja comprovada, será “uma discussão enorme”.
Na visão dele, grupos possíveis poderão incluir fumantes e ex-fumantes, pessoas com forte histórico familiar de câncer, indivíduos imunossuprimidos e sobreviventes da doença.
O que falta estudar sobre a vacina?
Até agora, os pesquisadores que lideram os estudos da LungVax têm apenas autorização para iniciar os testes em humanos. Isso marca o começo dos ensaios clínicos. Duas fases de testes serão realizadas:
Fase 1
Na primeira fase, ocorrerão as primeiras aplicações em seres humanos, com 30 participantes envolvidos.
Os pesquisadores verificarão se o imunizante é seguro e apresenta efeitos adversos. Também tentarão identificar a dose ideal, por meio de testes com diferentes quantidades, para gerar resposta imunológica.
Por fim, o organismo é avaliado; os cientistas acompanharão a possível produção de células de defesa após a aplicação. Neste estágio inicial, o objetivo não é comprovar a eficácia da vacina, mas sim sua segurança.
Fase 2
Com a confirmação de que a vacina é segura, os pesquisadores passarão a aplicar a LungVax em um número maior de pessoas com risco elevado de câncer de pulmão. Um segundo grupo, chamado grupo controle, não receberá a vacina. No total, serão 560 participantes envolvidos nos ensaios clínicos.
Na segunda fase, a meta é entender se a vacina realmente reduz a chance de o câncer retornar; se diminui a probabilidade de surgir um novo tumor; e se o efeito no sistema imunológico é consistente.
Os primeiros indícios de eficácia da vacina devem aparecer neste momento, embora a segunda fase não seja a última.


