PUBLICIDADE

Mar de Fortaleza tem triplo de microplásticos em relação a Jericoacoara

Foto: Reprodução

O oceano de Fortaleza apresenta uma concentração de microplásticos três vezes maior que a registrada no mar de Jericoacoara. É o que indica um estudo desenvolvido por pesquisadores do Instituto de Ciências do Mar (Labomar), da Universidade Federal do Ceará (UFC).

A pesquisa foi conduzida ao longo de 12 meses, entre novembro de 2023 e outubro de 2024. Para isso, foram utilizadas embarcações conhecidas como canoas havaianas equipadas com um coletor de baixo custo para captar microplásticos na superfície do mar.

Os resultados desse trabalho foram divulgados neste mês de novembro na revista holandesa Marine Pollution Bulletin. O estudo integra a dissertação de mestrado do pesquisador Alexandre Dantas, como parte do projeto “Detetives do Plástico”.

Durante os meses de levantamento, foram coletados mais de 20 mil microplásticos. A densidade média de resíduos registrada foi de 1,20 ± 2,30 partículas/m² na Praia do Mucuripe, em Fortaleza; e 0,39 ± 0,27 partículas/m² na praia de Jericoacoara.

“O principal resultado mostrou que Fortaleza tem três vezes mais microplásticos que Jericoacoara. Isso demonstra que uma cidade grande, fortemente urbanizada, gera um impacto gigantesco no ambiente aquático que está à sua frente, o oceano”, afirma Tommaso Giarizzo, professor do Labomar e coordenador do estudo.

Segundo o especialista, as fibras foram o tipo mais comum de microplástico encontrado, representando mais da metade (54,3%) das partículas coletadas.

“São as fibras têxteis, ou seja, nossas roupas, já que a maioria das peças que usamos é feita de fibras sintéticas”, aponta o doutor em Biologia Marinha.

Os dados também revelam que os níveis de contaminação aumentam durante a quadra chuvosa e sob ventos mais intensos, condições que favorecem o transporte dos resíduos.

Para a coleta do material, o projeto utilizou um coletor montado com cano de PVC, aço e uma malha extremamente fina, com aberturas de cerca de 330 micrômetros, acoplado a canoas movidas à força humana.

O método é considerado de baixa pegada de carbono e de custo reduzido. O professor Tommaso Giarizzo explica que o equipamento tradicional, conhecido como manta net, pode custar de 3 mil a 4 mil euros [entre R$ 18 mil a 24 mil]. Já a rede construída pela equipe pode ser montada por cerca de R$ 1.500.

“Fazer ciência com pouco dinheiro é o grande desafio. E hoje, diante das mudanças climáticas, temos que pensar não apenas em fazer ciência de baixo custo, mas também em fazer ciência de baixa pegada de carbono”, afirma.

A pesquisa também chama atenção para os impactos na saúde humana.

“Os microplásticos contêm muitos aditivos que, frequentemente, são compostos tóxicos. A partir do momento em que um peixe ou um camarão ingere o microplástico, tende a ser absorvido pelo tecido muscular desses organismo, e é justamente essa parte que consumimos”, explica.

Pesquisa da UFC incentiva a ciência cidadã

Na manhã desta segunda-feira, 1°, uma coleta demonstrativa de microplásticos no mar foi realizada na Praia do Mucuripe. No local, o professor Tommaso Giarizzo ressaltou que a escolha pela canoa havaiana nos estudos também contribuiu para aproximar a pesquisa da comunidade.

“Acho que existe, às vezes, uma grande divisão entre pesquisa e sociedade. Queríamos diminuir essa distância. A canoa havaiana é uma prática náutica que não usa motor e é muito simples. É um esporte inclusivo: qualquer pessoa pode praticar”, destaca.

O projeto contou com o apoio dos clubes de remo Kayakeria e Jeri Outtrigger. De acordo com Galdino Malandrino, que atua há 13 anos com esportes náuticos e é sócio-proprietário da Kayakeria, a parceria ampliou a conscientização ambiental entre frequentadores das praias.

“O mais legal é que, durante as coletas, conseguimos interagir com crianças, idosos, pessoas com deficiência, atletas, gente que vinha só para passear, todos participando. Isso mostrou que a canoa é para todos, e que o projeto estava plantando uma sementinha nessas pessoas”, relatou.

Acompanhe mais notícias da Rede ANC através do Instagram, Spotify ou da Rádio ANC.

WhatsApp
Facebook
Twitter
Telegram
Imprimir