Os ânimos se acirraram na Câmara Municipal de Fortaleza após a audiência pública que discutiu o Plano Diretor da Capital. O vice-presidente da Casa, vereador Adail Júnior (PDT), fez duras críticas ao evento, classificando-o como “uma das piores audiências públicas” de que já participou e acusando setores do campo popular de transformarem o debate em um “palanque eleitoral”.

“Foi uma das piores audiências públicas que eu já pude ter a oportunidade de participar. Nunca me senti tão humilhado”, afirmou Adail, durante sessão plenária nesta segunda-feira (4). Segundo ele, o encontro “virou um palanque eleitoral dos candidatos e futuros candidatos a deputado estadual e federal do partido PSOL”.

O parlamentar disse ainda ter se sentido desrespeitado pelos palestrantes. “Em nenhum momento eu fui cumprimentado por nenhum palestrante, e olha que deve ter passado de três dezenas”, reclamou. Para Adail, o debate sobre o Plano Diretor “foi desvirtuado para uma disputa partidária” e demonstrou falta de respeito com os vereadores e com a própria Câmara Municipal.
“Querer dizer que aquilo é discutir a cidade? Aquela audiência pública de ontem é discutir plano diretor? Ali é campanha eleitoral, é palanque eleitoral”, reforçou o pedetista, defendendo que a Casa “aceite o debate da cidade, mas observe a composição partidária dos membros da conferência municipal”.
Resposta do PSOL
A fala de Adail foi rebatida pela vereadora Adriana Gerônimo (PSOL), que também participou da sessão. Em tom conciliador, ela destacou que o Plano Diretor deve ser tratado como um instrumento para solucionar problemas históricos de Fortaleza, como os alagamentos em bairros periféricos.
“O plano diretor está aqui para solucionar, por exemplo, que o Lagamar, que alaga há 90 anos, merece investimento para o alagamento acabar. Está aqui para dizer que o Poço da Draga, mesmo ali no olho da especulação imobiliária, tem direito também de acabar com uma enchente que dura 119 anos”, afirmou.

Adriana rejeitou a ideia de transformar o debate em disputa política. “Eu não vou me limitar a fazer picuinha política. Não contem comigo para essa pegada na disputa pelo Plano Diretor”, disse. A parlamentar também defendeu os movimentos sociais, frequentemente criticados por vereadores de centro e direita. “A minha tarefa, enquanto representante da quarta maior capital do país, é defender os interesses de quem nunca teve lugar na política urbana de Fortaleza”.
Ela ainda se dirigiu diretamente a Adail: “Conte comigo quando for possível que a gente esteja junto. E, quando não for possível, eu não vou trocar farpas com vossa excelência nem com nenhum outro vereador. A minha postura vai ser do diálogo, mas eu também não vou aceitar que o campo popular seja atacado”.
Réplica do pedetista
Após a fala da vereadora do PSOL, Adail Júnior voltou à tribuna para dizer que respeita a postura de Adriana e reafirmar que sua crítica não teve caráter pessoal. “Reconheço a postura e a coragem que V. Exª tem de debate. Minha fala é de respeito com esta Casa e com os novos parlamentares”, afirmou.
O vice-presidente da Câmara insistiu, contudo, que a condução da audiência foi inadequada. “Foi muito estranho o comportamento de ontem, mas quero dizer que estarei, sim, para somar em prol daquele que mais precisa”, completou.
O debate sobre o Plano Diretor de Fortaleza, que orientará o crescimento urbano da capital pelos próximos dez anos, tem sido um dos temas mais sensíveis da atual legislatura. A Câmara ainda deverá realizar novas audiências públicas antes da votação final do projeto.
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