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Brasil cai para 133º lugar em ranking de presença feminina na política

A participação das mulheres na política brasileira continua entre as mais baixas do mundo, segundo relatório conjunto da ONU Mulheres e da União Interparlamentar (UIP). Em 2025, o Brasil ocupa a 133ª posição no ranking global de representatividade feminina nos parlamentos, ficando atrás de nações como Arábia Saudita, Somália, Cazaquistão e Burkina Faso. O cenário é o pior índice da América Latina.

A sub-representação se confirma nos números do Congresso Nacional. Na Câmara dos Deputados, apenas 93 das 513 cadeiras são ocupadas por mulheres, o que corresponde a 18,1%. No Senado, o percentual chega a 19,8%, com apenas 16 senadoras em exercício dentre as 81 vagas.

Brasil cai para 133º lugar em ranking de presença feminina na política
Foto: Geraldo Magela/Agência Senado

Executivo

No Poder Executivo, o índice é mais elevado: 10 dos 31 ministérios são liderados por mulheres, o que corresponde a 32,3%. Com isso, o país ocupa apenas o 53º lugar na lista global de presença feminina em cargos ministeriais.

Os dados, que analisam a composição de 189 países até 1º de janeiro de 2025, revelam que o Brasil ainda está distante da paridade de gênero. Enquanto isso, nove países já alcançaram gabinetes majoritariamente compostos por ministras. Nicarágua, Finlândia, Islândia, Liechtenstein, Estônia, Andorra, Chile, Espanha e Reino Unido chegaram à marca de 50% ou mais.

O relatório também aponta que, atualmente, 25 países possuem mulheres em cargos de chefia de Estado ou de Governo. Destes, 12 estão localizados na Europa. Enquanto isso, 106 países ainda não tiveram liderança feminina.

Legislativo

No panorama internacional, Ruanda permanece como referência em representatividade, com 61,3% das vagas preenchidas por mulheres. Desde 2003, uma lei de cotas mínimas de 30% garante a presença feminina em todos os órgãos públicos, índice que costuma ser superado no Parlamento.

Segundo o ranking, os Emirados Árabes Unidos também figuram entre os países mais avançados nesse quesito. O país ocupa a 5ª posição na lista após ter atingido 50% de mulheres no Legislativo.

Brasil cai para 133º lugar em ranking de presença feminina na política
Foto: Depositphotos

Embora a representatividade avance em algumas regiões, o ritmo é considerado insuficiente. Segundo o relatório, a participação feminina nos parlamentos mundiais cresceu apenas 0,3 ponto percentual em um ano, alcançando 27,2% em 2025. Nos ministérios, houve queda de 23,3% para 22,9% no índice global.

O que diz a ONU e a UIP?

A diretora-executiva da ONU Mulheres, Sima Bahous, avaliou que o progresso permanece estagnado e pontuou medidas mais eficazes. “Trinta anos após a Declaração de Pequim, a promessa de igualdade de gênero na liderança política segue não cumprida. Não podemos aceitar que metade da população continue excluída da tomada de decisões”, comentou.

Por sua vez, a presidente da UIP, Tulia Ackson, se referiu ao avanço como “glacial”. Já o secretário-geral da entidade, Martin Chungong, defendeu o engajamento de homens como fator essencial para enfrentar barreiras institucionais.

O relatório também destaca que a desigualdade vai além da quantidade de mulheres em cargos. Enquanto elas permanecem concentradas em ministérios de áreas sociais, os homens ocupam, majoritariamente, pastas de finanças, defesa e relações exteriores. Para reverter esse cenário, a ONU Mulheres e a UIP defendem reformas eleitorais, adoção de cotas e comprometimento político efetivo.

Cotas femininas avançam no Congresso

No Brasil, uma proposta em tramitação no Congresso Nacional busca garantir ao menos 20% das cadeiras nos parlamentos federal, estaduais e municipais para mulheres pelos próximos 20 anos. O Projeto de Lei Complementar 112/2021, de autoria da deputada Soraya Santos (PL-RJ), estabelece ainda que apenas candidatas que obtenham, no mínimo, 10% do quociente eleitoral poderão ocupar essas vagas.

Para o relator, senador Marcelo Castro (MDB-PI), a medida é essencial para combater a ausência de mulheres em centenas de municípios. Segundo o parlamentar, mais de 700 cidades não têm nenhuma representante feminina nas câmaras municipais, enquanto outras 1,6 mil contam com apenas uma vereadora.

A proposta, no entanto, encontra resistência. O senador Dr. Hiran (PP-RR) defende que a regra pode comprometer o princípio da representatividade. “A opinião pública não conseguirá entender que um estado com 10 vagas para deputados federais tenha duas mulheres que não tiveram votação significativa e elas representem a sociedade que votou em homens com votação muito maior”, argumentou.

Brasil cai para 133º lugar em ranking de presença feminina na política
Foto: M.Antonello/Shutterstock

Para o senador Espiridião Amim (PP-SC), a falta de participação feminina é um reflexo cultural, mas ele admite que as cotas podem ser necessárias como medida de transição. “Isso é um déficit cultural. Quem é que quer cota para alguma coisa? Ninguém quer, mas precisa. É preciso para o negro, para as minorias. Por quê? Porque eles não estavam acostumados a disputar eleição. A mulher também não”, comentou.

Outra proposta em discussão prevê extinguir a obrigatoriedade de 30% de candidaturas femininas nos partidos desde que a exigência de destinar 30% dos recursos de campanha a mulheres seja mantida. No entanto, a iniciativa é contrariada pela senadora Zenaide Maia (PSD-RN). “Ninguém me convence dessa história de dizer que tem dificuldade de botar mulheres candidatas e vão tirar esses 30%. Aliás, eu não sei por que essa fixação em retirar esses 30% que a gente conseguiu, fica difícil de a gente entender isso”, pontuou.

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