A indústria cearense de calçados consolidou, entre 2022 e 2024, posição de destaque no cenário nacional, registrando a maior participação no volume total produzido pelo país. No ano passado, segundo a Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados), o setor no Ceará respondeu por 226 milhões dos 929,5 milhões de pares fabricados no Brasil, alcançando 24,3% da produção.
O desempenho mantém a trajetória de liderança observada em 2023 (24,4%) e 2022 (23,9%). Também em 2024, a fabricação nacional atingiu o maior nível em seis anos, superando pela primeira vez o período pré-pandemia.
Entre os estados com maior valor agregado no setor, medido pelo Valor de Transformação Industrial (VTI), destacaram-se Rio Grande do Sul, Ceará, São Paulo, Minas Gerais e Bahia. Em 2023, essas localidades somaram R$ 22,13 bilhões em valor agregado, o equivalente a 79,3% do total nacional. Naquele ano, o Ceará ocupou a segunda posição no ranking de geração de valor, com 18,8% do VTI brasileiro, atrás apenas do Rio Grande do Sul (29,5%) e à frente de São Paulo. Minas Gerais ampliou participação e ultrapassou a Bahia, assumindo a quarta colocação.

Os dados integram a edição nº 273 do Ipece Informa – “Evolução e Desempenho da Indústria de Calçados no Ceará: Uma Análise de Longo Prazo” –, publicada pela Diretoria de Estudos Econômicos (Diec) do Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará (Ipece). O estudo é assinado pelos analistas de Políticas Públicas Witalo de Lima Paiva e Alexsandre Lira Cavalcante, além da assessora técnica Ana Cristina Lima Maia, sob coordenação do professor Ricardo Pereira.
Emprego
A análise sobre vínculos formais revela um cenário de retração no país entre 2010 e 2023. Apenas a Bahia registrou crescimento no período, com avanço de 2,62%. Os demais principais estados empregadores apresentaram queda: São Paulo (-43,82%), Rio Grande do Sul (-30,76%) e Ceará (-0,79%). Nacionalmente, o setor acumulou redução de 20,79% no total de empregos.
Apesar do recuo, o Ceará passou a ocupar a segunda posição em número de vínculos ativos, com 66.355 empregos em 2023. O resultado ampliou a participação estadual de 15,9%, em 2010, para 19,9% em 2023. O Rio Grande do Sul manteve a liderança, com 95.942 trabalhadores, embora tenha tido uma redução de 33,3% para 28,8% no mesmo intervalo.

A distribuição dos empregos dentro do território cearense evidencia a capilaridade do setor. Em 2023, 42 municípios registravam vínculos formais na atividade, o equivalente a quase 23% das cidades do estado. Sobral (11.702 empregos) e Horizonte (10.969) concentraram, juntas, 34,2% dos postos de trabalho formais da indústria. Quinze municípios ultrapassaram a marca de mil trabalhadores, com destaque para Quixeramobim (6.153), Itapipoca (4.860), Morada Nova (3.987), Brejo Santo (3.979), Crato (2.197) e Russas (2.114).
Exportações
No comércio exterior, o desempenho também posicionou o Ceará entre os principais exportadores do país. Em 2024, o estado respondeu por 18,67% das vendas nacionais de calçados, ficando atrás apenas do Rio Grande do Sul, que concentrou 53,10%. Juntos, Rio Grande do Sul, Ceará, São Paulo, Bahia e Paraíba foram responsáveis por aproximadamente 90% das exportações brasileiras naquele ano.
As vendas externas do setor totalizaram US$ 1,070 bilhão em 2024, abaixo dos US$ 1,264 bilhão registrados em 2023 e do volume observado em 2010, que foi de US$ 1,648 bilhão. A retração acompanhou o movimento dos principais estados exportadores sob influência de alguns fatores como os impactos da pandemia de Covid-19, a redução da demanda em mercados como Estados Unidos, Itália e Reino Unido e a crise econômica na Argentina.
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