Mesmo após o fim da quadra chuvosa, época propícia à proliferação do Aedes aegypti, devido ao fácil acúmulo de água, a dengue, junto a outras doenças relacionadas ao mosquito transmissor, permanecem a preocupar a saúde no Ceará. Conforme o documento de notificação de doenças compulsórias divulgado pela Secretaria da Saúde do Estado do Ceará (Sesa) ontem (23), em 2016, morreram 19 pessoas vítimas da dengue.
Quando comparado ao boletim anterior, divulgado no dia 16 de agosto, e referente a 32ª semana epidemiológica, o atual documento trouxe duas novas mortes. Do total de óbitos, cinco foram em Fortaleza, um em Caucaia, dois em Maracanaú, e um em cada um dos seguintes municípios: Maranguape, Pacatuba, Capistrano, Aracati, Fortim, Alto Santo, Limoeiro, Icó, Catarina Assaré e Horizonte.
A Capital registrou 13.466 casos de dengue e cinco óbitos confirmados. Fortaleza lidera o número de mortes, com 26,3% dos registros do Estado. Em todo o Ceará, foram notificados 25.562 casos, sendo 160 graves. Até o último dia 16, haviam 24.815 confirmações no Ceará. Ou seja, em uma semana houve um acréscimo de 747 confirmações.
De acordo com a Pasta, uma das vítimas por dengue residia em Maranguape. A outra morte foi em Limoeiro do Norte. Ambos do sexo masculino, com 57 e 63 anos respectivamente. No último boletim epidemiológico, emitido pela Sesa no dia 5 de agosto, já haviam sido confirmados casos nas 22 Coordenadorias Regionais de Saúde (CREs) e em 155 dos 184 municípios.
Reincidência
Aos 38 anos de idade, o webdesigner Lúcio Flávio da Silva Lima já foi acometido pela dengue diversas vezes. De 2009 para cá, Lima foi diagnosticado com a doença três vezes. A mais recente aconteceu há menos de um mês. Para ele, o problema está em quem não dá a devida importância aos cuidados necessários para evitar a presença do mosquito transmissor.
“Eu já me mudei de residência, moro atualmente no Pici. É uma área arborizada e suja, o que facilita a proliferação dos focos. Em casa eu tenho os cuidados necessários, temos uma consciência ecológica. A gente faz a nossa parte, mas, de repente, quem está perto não faz. Nessa última vez que fui diagnosticado eu tive uma dor de cabeça muito forte e uma dor no corpo de forma geral”, lembrou Lima.
Chikungunya
No Estado, os números relacionados a chikungunya e ao zika vírus, outras enfermidades relacionadas ao Aedes aegypti, também se mostram em constante elevação. Sete mortes por chikungunya já foram registradas até a atual 33ª semana epidemiológica. Um óbito a mais do que na semana anterior. A última confirmação foi de uma mulher, vítima da doença aos 57 anos, que residia em Fortaleza.
Em apenas uma semana o número de casos de chikungunya aumentou em 5%. Antes, eram 18.413 registros. Agora, 19.378. Dos sete óbitos, cinco foram na Capital, um em Quixadá e o outro em Crateús. A maioria dos casos confirmados ocorreu em adultos, na faixa etária de 40 a 49 anos, com predominância do sexo feminino. O número de pessoas infectadas pelo zika vírus foi o que apresentou a menor mudança. Até a 32ª semana eram 1.547. Agora, foram confirmados 1.549.
Prevenção
Sobre as ações preventivas para evitar a proliferação do agente transmissor das doenças, a supervisora do Núcleo de Controle de Vetores da Sesa, Roberta de Paula, afirma que o trabalho foi intensificado e as campanhas educativas continuam. Em Fortaleza, Roberta ressalta que nos últimos dias há uma inconstância relacionada às chuvas que, por vezes, acontecem de madrugada, sem que sejam percebidas e levadas em consideração pela população como um fato facilitador para a volta do acúmulo de água nas residências.
“Os ovos de mosquito são invisíveis. Quando um balde enche de água é muito rápido para aparecerem larvas, coisa de 30 minutos. O Meireles é um ponto alto de infestação em Fortaleza. É um local onde, aparentemente, as pessoas não guardam água, mas acaba acontecendo. Nessa área, é mais comum encontrarmos mais mosquitos em banheiro desativados, como por exemplo, um apartamento que tem um banheiro que passa muito tempo sem ser utilizado”, explica a supervisora.
Devido à escassez de água, é comum que a população de determinados municípios do Interior acumule água nas residências. Roberta lembra que sem a vedação correta, baldes, bacias, potes e garrafas se tornam local propício para a reprodução do Aedes aegypti. A Secretaria orienta que aprender a economizar e a conviver com menos água ajuda na contenção da proliferação do mosquito.
“Não basta só colocar uma tampa ou um pano cobrindo os depósitos. É necessário tampar bem, deixar vedados, impedindo qualquer acesso para o mosquito entrar e por os ovos”, reforça ela. Para a próxima quadra invernosa, Roberta adiantou que a Secretaria de Saúde do Estado já está construindo um plano de enfrentamento ao mosquito Aedes aegypti. As ações devem ter início em janeiro de 2017 para evitar que um novo surto se instale no Estado.
D.N