Pesquisa da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel) aponta que o número de bares e restaurantes operando com prejuízo atinge o maior índice desde março de 2023. Segundo o levantamento, realizado no último mês de março, 31% das empresas trabalhando no vermelho, pior índice desde março do ano passado. Além disso, outros 38% dos estabelecimentos trabalharam em equilíbrio e 31% tiveram lucro, o que representa uma queda de quatro pontos percentuais em relação à pesquisa anterior. No Ceará, metade das empresas registraram prejuízo em fevereiro, um crescimento de trinta pontos percentuais em relação a janeiro.
Os principais fatores que levaram à queda de desempenho foram queda nas vendas do mês (75%), redução no número de clientes (73%) e dívidas com impostos, taxas e encargos (45%). E mais: 40% dos estabelecimentos não conseguiram aumentar os preços nos últimos 12 meses; 51% realizaram reajustes conforme ou abaixo da inflação e apenas 9% reajustaram acima da inflação.
O presidente da Abrasel no Ceará, Taiene Righetto, pontua que o estado foi impactado ainda mais por conta do cenário de chuvas e instabilidade no fornecimento de energia pela Enel. “Em fevereiro tivemos uma dificuldade extrema que se refletiu nas vendas do setor: as chuvas intensas que atrapalharam o carnaval. E também as constantes quedas da energia fornecida pela Enel. Isso aprofunda as dificuldades e torna ainda mais importante um olhar para os estabelecimentos, que lutam para pagar as dívidas, em um cenário de queda do movimento”, aponta.
Segundo ele, o otimismo que havia na recuperação está se esvaindo. “Hoje apenas um em cada cinco pretende contratar ainda este semestre, mesmo que estejam por vir datas importantes, como o dia das mães e o dia dos namorados”, acrescenta. De acordo com o levantamento, 22% dos empreendedores do Ceará pretendem contratar mão de obra no primeiro semestre de 2024. 46% esperam manter o atual quadro de funcionários e outros 27% pensam em demitir.
Em relação ao fator endividamento, 54% das empresas têm dívidas em atraso, um aumento de um ponto percentual em relação à pesquisa anterior. Destas, 75% devem impostos federais, 54% devem impostos estaduais, 39% têm empréstimos bancários, 34% devem serviços públicos (água, luz, gás, telefone), 25% taxas municipais, 23% devem fornecedores de insumo, 21% devem encargos trabalhistas/previdenciários, 16% estão com aluguel atrasado, 7% fornecedores de equipamentos e serviços e 5% empregados.
Quanto a inflação no setor, os estabelecimentos no Brasil seguem com dificuldades de ajustar os preços do cardápio acima do índice geral: 19% reajustaram o cardápio abaixo da inflação; 35% reajustaram, mas somente para acompanhar a inflação; 37% não conseguiram reajustar os preços e apenas 9% reajustaram acima do índice.
“Os números recentes revelados pela pesquisa são preocupantes para o setor de bares e restaurantes. Com 31% das empresas operando no vermelho, enfrentamos desafios significativos. Em janeiro houve queda nas vendas, com ligeira recuperação em fevereiro por causa do carnaval, mas que não foi percebida como uma retomada pelos estabelecimentos. Além disso, a dificuldade em ajustar os preços do cardápio para recuperar perdas é um desafio adicional, junto com o alto endividamento, já que quase 40% do setor têm dívidas atrasadas”, diz Paulo Solmucci, presidente-executivo da Abrasel.
A pesquisa indicou que 39% das empresas têm dívidas em atraso. Os impostos federais lideram a lista de pagamentos atrasados (72%), seguido de impostos estaduais (50%), empréstimos bancários (37%), encargos trabalhistas/previdenciários (29%), serviços públicos (29%), fornecedores de insumos (24%), taxas municipais (23%), aluguel (18%), fornecedores de equipamentos e serviços (11%), e empregados (5%).