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Comando Vermelho impôs ameaças e influenciou eleições em Santa Quitéria, aponta MPCE

O Ministério Público do Ceará (MPCE) revelou que a facção criminosa Comando Vermelho (CV) interferiu diretamente nas eleições municipais de Santa Quitéria, município localizado a 223 km de Fortaleza. De acordo com o subprocurador-geral de Justiça Jurídico, Plácido Rios, a organização criminosa atuou para garantir a vitória de candidatos alinhados aos seus interesses.

Segundo o MPCE, a facção comprava apoio político com dinheiro oriundo do tráfico de drogas, expulsava moradores, proibia a exibição de bandeiras e propagandas de adversários, impedia passeatas e reuniões políticas e ameaçava de morte quem contrariasse suas ordens. “Chegaram a ameaçar destruir o cartório eleitoral, inclusive incendiando o local”, afirmou Rios.

As investigações contaram com colaboração premiada de presos, que permitiram à Justiça autorizar prisões, buscas, apreensões e sequestro de bens. Um dos alvos das operações foi a comunidade da Rocinha, no Rio de Janeiro, onde estavam escondidos líderes da facção atuante no Ceará.

Como o Comando Vermelho atuou

Em entrevista coletiva realizada nesta terça-feira (3), o MPCE e forças de segurança detalharam a operação conjunta realizada no último sábado (31) pelas polícias civis do Ceará e do Rio de Janeiro. O objetivo era capturar Anastácio Paiva Pereira, conhecido como Doze ou Paulinho Maluco, apontado como um dos principais chefes do CV no estado. Apesar da ação, apenas um dos foragidos com mandado de prisão foi capturado.

Anastácio tem histórico de envolvimento com a política local. Conforme as investigações, o apoio da facção foi determinante para as vitórias eleitorais de José Braga Barrozo, o Braguinha (PSB), em 2020 e 2024. Por conta disso, o Ministério Público Eleitoral (MPE) pediu e a Justiça Eleitoral determinou a cassação dos mandatos de Braguinha e do vice, Gardel Padeiro (PP). Ambos foram impedidos de assumir os cargos.

Braguinha chegou a ser preso no início deste ano, acusado de ligação com o traficante, mas conseguiu converter a prisão preventiva em domiciliar, alegando problemas de saúde.

Clima de medo e violência

De acordo com o MPCE, a facção criou um ambiente de forte intimidação durante o processo eleitoral. As ações criminosas incluíram:

  • Constrangimento a candidatos adversários; 
  • Ameaças a moradores que exibiam material de campanha opositora; 
  • Proibição de carreatas, passeatas e reuniões políticas; 
  • Tiros disparados contra residências; 
  • Ameaças de morte a eleitores e servidores da Justiça Eleitoral; 
  • Tentativa de incendiar e destruir o cartório eleitoral da cidade. 

Mesmo com a atuação das polícias e do Ministério Público para garantir a normalidade do pleito, os candidatos apoiados pela facção foram eleitos. No entanto, em maio deste ano, a Justiça cassou os mandatos do prefeito, do vice e de outros vereadores eleitos sob a influência do grupo criminoso. Paralelamente, tramita uma ação penal no Tribunal Regional Eleitoral do Ceará (TRE-CE) contra os envolvidos.

R$ 1 milhão enviado à Rocinha

Outro dado revelado pelo subprocurador Plácido Rios é que, neste ano, um veículo Mitsubishi Eclipse saiu de Santa Quitéria transportando R$ 1 milhão em espécie, destinado à Rocinha, onde o valor foi entregue a um dos principais líderes do Comando Vermelho. O dinheiro seria pago pelos serviços prestados ao candidato que venceu a eleição no município cearense.

Conforme o MPCE, o interesse da facção na cidade é sobretudo econômico, com o objetivo de estabelecer domínio sobre a região. O Ceará é considerado estratégico para grupos criminosos devido à sua localização geográfica — com proximidade à Europa e África — e aos portos vulneráveis, com fiscalização reduzida.

Histórico de Anastácio “Paulinho Maluco”

Anastácio já havia sido apontado, em 2020, como mandante de um plano para assassinar o então prefeito e candidato à reeleição, Tomás Figueiredo (MDB). Quatro pessoas foram presas na época, suspeitas de envolvimento na tentativa.

Durante as eleições passadas e também em 2024, eleitores de Figueiredo foram alvo de ameaças, com pichações em muros alertando que quem votasse no emedebista “iria se ver com a Tropa do Paulinho Maluco”.

Anastácio está foragido desde de 2020. Ele cumpria pena de 15 anos e 2 meses por dois roubos em Santa Quitéria, mas progrediu para o regime aberto em setembro de 2018. Na operação recente, a polícia não conseguiu capturá-lo — ele teria fugido pela mata ao perceber a chegada das forças de segurança.

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