A comunidade pesqueira de Curral Velho, localizada no litoral oeste do Ceará, manifestou resistência contra a expansão do Parque Eólico Ventos do Acaraú. Em um encontro promovido pela Defensoria Pública do Estado do Ceará (DPCE), os moradores expressaram suas preocupações e necessidades, destacando os impactos negativos que a instalação e ampliação dos parques eólicos têm gerado na região.
Lucinete Honório, uma das marisqueiras da comunidade, sintetizou o sentimento dos habitantes: “Vão fechar os caminhos da praia. Por onde vamos passar? Como vamos trabalhar? O que a gente quer de vocês é ajuda para deixar a gente livre, do jeito que está hoje”.
A economia local de Curral Velho é sustentada pela pesca artesanal, mariscos, agricultura e artesanato, mantendo viva a herança dos povos tradicionais que habitam a área desde o século XVIII. A poluição sonora provocada pelos aerogeradores afeta cerca de 10 mil habitantes em 18 comunidades, representando 16% da população de Acaraú, conforme um estudo do Departamento de História da Universidade Federal do Ceará (UFC). De acordo com a pesquisa, 76% dos moradores citam o barulho como um problema constante.
“É como você passar o dia todo, manhã e noite, com um zumbido no ouvido. Quem mora mais perto não consegue dormir, não tem qualidade de vida”, relatou o pescador Vanilson Honório, que vive da pesca há 40 anos.
A defensora pública geral, Sâmia Farias, enfatizou a importância de ouvir as comunidades para garantir seus direitos. “Visitamos as comunidades para levarmos direito, cidadania, conhecimento e acesso à justiça. É importante estar perto da comunidade, ouvindo os relatos, e aqui, especialmente, trataram da expansão das eólicas”, disse.
A comunidade de Curral Velho tem uma longa história de resistência, desde a luta contra as fazendas de camarão, que resultaram em desmatamento dos manguezais e invasão de terras. A luta contra os parques eólicos é mais um capítulo na defesa de seus direitos e modo de vida.
O projeto “Amar Defensoria, um Mar de Direitos”, lançado pela DPCE, já passou por Trairi, Itapipoca e Itarema, com o objetivo de ouvir e encaminhar as demandas das comunidades pesqueiras, quilombolas, indígenas e artesãs aos órgãos competentes.
Joyce Ramos, ouvidora geral externa da Defensoria, afirmou: “Como ouvidora da Defensoria, irei acompanhar como serão os encaminhamentos das demandas, continuando as escutas e participando das articulações junto aos movimentos populares sobre os impactos socioambientais causados pelos projetos de energia eólica”.
O encontro contou ainda com a presença de representantes do Ministério Público do Ceará, da Comissão de Direitos Humanos e Cidadania da Assembleia Legislativa, do Escritório Frei Tito, da Secretaria Municipal de Meio Ambiente de Acaraú, do Instituto Terramar, além de pesquisadores da UFC e representantes do IDACE.