Dirigido por Todd Phillips (Cães de Guerra), “Coringa: Delírio A Dois” é um projeto que parece ter sido feito com muito êxtase, e pouco preparo. Entregando uma história com boas competências, mas que não salvam a sua falta de objetivo.
Dois anos após os eventos do primeiro filme, “Coringa: Folia A Dois” mostra Arthur Fleck preso e sendo julgado pelos seus crimes. No meio disso, o protagonista passa por uma provação para entender se o Coringa é outra personalidade dele ou se os dois são uma coisa só. Neste processo, conhece Lee, uma nova paixão que tenta fazê-lo enxergar quem ele é de verdade.
O primeiro filme tem um claro objetivo, que é, por meio de um dos vilões mais clássicos das histórias em quadrinhos, falar sobre problemas psicológicos, como pessoas com essas condições são negligenciadas e suas possíveis consequências. Enquanto isso, sua sequência apenas flerta com esse propósito, e mal consegue criar outra finalidade, fazendo com que o projeto seja quase vazio.
A ideia da discussão se o Coringa é outra personalidade de Arthur, me parece quase uma antítese do primeiro filme. O protagonista sabe que tudo que ele fez foi por uma vontade própria, sendo ela vindo de um canto muito obscuro de seu interior. Então, trazer esse debate para uma continuação é apenas discutir o óbvio, pois todos sabem quem ele é de verdade.
O foco do filme talvez tivesse que ser mais do romance entre Arthur e Lee, se aprofundando como o Coringa criou um movimento e virou uma influência para várias pessoas. No entanto, o roteiro de Phillips e Scott Silver (O Vencedor) apenas esbarra nisso, parecendo ser uma desculpa para colocar Joaquin Phoenix (Gladiador) e Lady Gaga (Casa Gucci) para cantarem juntos.
Ambos os atores fazem um bom trabalho, com atuações bem caracterizadas e impactantes, além de uma ótima performance nos números musicais. Entretanto, estes mesmos momentos são alguns dos maiores problemas do filme. Eu aprecio a ideia de que a maioria dos números sejam apenas dentro da mente dos personagens, ou deixe de maneira dúbia se aconteceram de verdade, mas é notório como a maioria desses momentos são mal encaixados na narrativa, apresentando-os de maneira brusca.
O filme ainda tem uma beleza em sua fotografia, comandada por Lawrence Sher (Se Beber Não Case), que consegue através dos seus enquadramentos captar cada emoção dos personagens. Fora o design de produção de Mark Friedberg (A Baleia), que entrega uma simplicidade suja e confusa ao cenário, algo que liga diretamente a proposta desse universo.
Apesar dessas competências, o roteiro e a direção são problemas tão grandes, que talvez elas passem despercebidas. Todd Phillips parece perdido na narrativa, não sabendo onde levar essa história e como terminá-la, utilizando números musicais dos protagonistas apenas para disfarçar isso. Tudo isso fica escancarado, principalmente, no terceiro ato, visto que há muitas viradas de roteiro mal elaboradas e um encerramento digno de mau gosto.
Por fim, “Coringa: Delírio A Dois” é um filme que com certeza decepciona, mas não que não deve ser tratado de maneira trivial. O projeto tem ótimas atuações, caracterizações, cenários, fotografia e direção de números musicais, todavia, isso não segura o longa-metragem. O roteiro parece não ter propósito, entregando uma história que antes era tida como desnecessária e agora é comprovada, visto que não acrescenta em praticamente em nada à história de Arthur Fleck.
Nota: 5,5/10
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