Dirigido por Shawn Levy (Uma Noite No Museu), Deadpool & Wolverine entrega a experiência máxima que seu protagonista pode proporcionar, isso através de uma homenagem a um período importante para o gênero de super-heróis.
Após voltar no tempo ao final do segundo filme, agora Deadpool é recrutado para AVT, e nesse processo descobre que precisa da ajuda de Wolverine para que sua linha do tempo seja salva. Agora a dupla mais contrastante do cinema parte em uma aventura para socorrer os entes queridos de Wade Wilson.
O início dessa história é esquisita, pois ver Deadpool desejando entrar nos Vingadores não é algo que combina muito com o que foi construído nos filmes anteriores. O personagem tem um certo senso de justiça, mas sendo feito do jeito dele e não através de uma equipe. Não é à toa que ele não desejava entrar para os X-Men, e o que ele queria mesmo era ter uma família.
Outro ponto que causa estranheza é o fim do relacionamento do protagonista com Vanessa, visto que é algo inimaginável que a personagem dos filmes anteriores terminasse noivado com o Deadpool apenas pelo fato de Wade ter desistido de ser um herói.
Apesar dessa inconsistência, o decorrer da narrativa compensa tudo muito bem em manter o amor de Deadpool pela sua família, até por aqueles que lhe abandonaram. Nisso é criado uma compaixão do público com a motivação do protagonista, fazendo com que nos envolvamos com seu objetivo.
E é justamente quando a missão de Wade Wilson começa, que o filme começa a brilhar. Usar a AVT da série “Loki” foi uma ótima sacada dos roteiristas Rhett Reese (Zumbilândia) e Paul Wernick (Ghosted) para ambientar o personagem no Universo Cinematográfico Marvel (MCU), proporcionando as melhores quebras da quarta parede do personagem durante o filme. Além disso, foi a melhor maneira de colocar Hugh Jackman (O Rei do Show) mais uma vez no papel de Wolverine.
A partir do momento que vemos Deadpool indo recrutar Wolverine para sua aventura, o projeto dá um salto enorme em sua qualidade. Colocar o Mercenário Tagarela ao lado da mutante faz praticamente com que o filme caminhe sozinho, muito disso pela química invejável que Ryan Reynolds (A Proposta) e Hugh Jackman têm em cena. Porém, a maneira que criam isso é algo orgânico e ainda fazem ambos passarem por um desenvolvimento que agrega ainda mais a narrativa.
Falando nela, tenho certeza muitos dirão que ela não existe neste longa-metragem devido a sua grande quantidade de fanservice. No entanto, desde já discordo veemente, uma vez que todas as participações especiais e easter eggs vão além do objetivo de agradar o fã. Tudo isso acontece de uma maneira bem embasada dentro do MCU, fazendo com que nada seja gratuito, fora que estamos falando da história de um personagem que usa e abusa da metalinguagem, sendo mais um ponto que não só justifica tudo isso, como também engrandece o projeto.
Além disso, a história também é uma homenagem à 20th Century Fox quando fazia filmes de super-heróis. Temos que lembrar que, através de erros e acertos, o estúdio foi um daqueles que mais acreditou no gênero, e foi responsável por criar clássicos da Marvel no cinema. Sabendo disso, o roteiro vai além de uma sátira e de um fanservice fazendo referências a esse período, acaba realizando um tributo para aqueles que pavimentaram o caminho para os super-heróis serem um negócio autossustentável na indústria cinematográfica e que move milhões de pessoas ao cinema.
Outro ponto a ser comentado de Deadpool & Wolverine são suas piadas, visto que, mais do que nunca, Ryan Reynolds, quem colaborou na elaboração do roteiro, conseguiu entregar as melhores tiradas cômicas do personagem em sua trilogia. Fora piadas que vão além do texto, aquelas que exigem muito da atuação corporal.
Todavia, o roteiro do filme volta a escorregar no meio da aventura, envolvendo principalmente a vilã vivida por Emma Corrin (The Crown), uma vez que não consegue expor suas motivações muito bem, se é que ela tem uma. Apesar da atriz entregar uma boa interpretação, especialmente quando usa seus poderes, é notório que a escrita não foi caprichada para entendermos a personagem, seja internamente, como ela trabalha naquele universo ou até mesmo seus objetivos.
Mesmo com essas escorregadas, o trabalho de Shawn Levy (Uma Noite No Museu) no longa-metragem é notável, visto que, mesmo com inconsistências do roteiro, o diretor consegue fazer com que a narrativa seja bem conduzida. Além disso, o cineasta acerta bem nas cenas de ação, no timing cômico e, principalmente, em expor os íntimos dos seus protagonistas. Não que o filme seja um grande drama (longe disso, na verdade), mas quando Deadpool e Wolverine precisam falar sobre sentimentos, Levy consegue fazer com que o tom do projeto mude por um tempo e que isso encaixe bem.
Por fim, Deadpool & Wolverine tem falhas que o prejudicam, mas a maneira que utiliza a temática do multiverso faz com que sua narrativa seja fluente e que vá engrandecendo a cada cena. Além disso, o projeto conta com o melhor de Ryan Reynolds como Wade Wilson, dominando o personagem mais do que nunca, e um Hugh Jackman leve ao voltar a ser o Wolverine, que passa a sensação o herói é, de fato, ele mesmo, independente do propósito da história.
O longa-metragem é afiado em suas piadas, design de produção e trilha sonora, mas brilha verdadeiramente em homenagear um período dos filmes dos super-heróis que não volta mais, por bem e por mal. Ademais, prova que o fanservice consegue ir além de agradar ao fã sem motivo algum, e que ele pode servir muito bem a uma história.
Nota: 8/10
Também leia nossa crítica de Um Lugar Silencioso: Dia Um, Divertidamente 2 e Fúria Primitiva.