De acordo com o MapBiomas Alerta, o Ceará passou por um aumento em seu desmatamento em 28% em 2023. No total, durante o ano, 32.486 hectares (ha) foram desmatados no território cearense, fazendo com que o Estado seja a 12° unidade federativa que mais desmata no Brasil.
De todos as cidades do Ceará, Crateús é o município com mais desflorestamento registrado, sendo 1,5 mil ha, ficando na frente de Acopiara, com mil, e Mauriti, com 902. O principal responsável pelo desmatamento é agropecuária, no qual causou 97,8% dos casos.
No entanto, é importante lembrar que Crateús é a cidade com a maior quantidade de locais de conservação, possuindo oito. Coordenador geral da Associação Caatinga (AC), Daniel Fernandes, afirma que isso reforça a importância da fiscalização por parte dos órgãos ambientais e a necessidade de um batalhão de polícia ambiental na região.
Sendo o bioma presente em todo o território cearense, a caatinga teve o seu desmatamento aumentado em 43,3%. Além disso, Fernandes afirma que o bioma vem sendo há anos, e que a cada ano tem crescido a sua degradação e na perda da sua biodiversidade. “Hoje o bioma já perdeu cerca de 47% da sua cobertura vegetal, segundo dados do MapBiomas”, disse o coordenador.
Todo este desmatamento pode ocasionar no aumento da desertificação no Ceará em outros estados. Fernandes explica que toda a região do Nordeste já possui áreas em estágio avançado de desertificação, fazendo com que 13% do território da caatinga esteja nessa situação. “No Ceará, temos três núcleos: região de Inhamuns, Irauçuba e Médio Jaguaribe. Eles sofreram um processo de degradação tão amplo que o solo já perdeu a fertilidade”, comenta Daniel Fernandes.
O coordenador geral da AC ainda revela que essa situação também pode trazer consequências sociais e econômicos. Como é o caso de famílias que vivem em áreas que estão em estágio avançado de degradação, passando por dificuldade em ter uma agricultura de subsistência, visto que o solo está pobre em nutrientes. “A tendência é que a gente observe, caso continue dessa forma, novos processos de migração, de êxodo rural”, disse Fernandes.
Coordenador da Equipe Caatinga do MapBiomas, Washington Rocha, salienta que a falta de transparência nas autorizações de desmatamento no Ceará é um dos responsáveis por essa situação, visto que apenas 4,8% dos documentos foram identificados. “Pode ser que essas informações existam, mas não foram publicamente divulgadas. (Caso não existam), é uma implicação com o desmatamento legal. É algo que precisa ser questionado e precisa ter uma resposta das autoridades”, pontua.
Daniel Fernandes ainda revela que a caatinga é o único bioma exclusivamente brasileiro, porém, é o menos protegido em por unidades de conservação. “As unidades de conservação são áreas legalmente criadas pelo poder público — ou privado, como as RPPNs — que vão proteger nascentes, abrigar a biodiversidade e manter áreas de floresta intocadas e preservadas. Mas temos uma carência muito grande. Apenas 8,8% do território está protegido”, diz o coordenador.
O mesmo ainda pontua que não existe uma legislação para a proteção do bioma, e que ele passa por uma marginalização desde a criação de 1988. “Isso causa uma ausência de políticas públicas voltadas para a conservação e de adaptação climática para pessoas que vivem no lugar”, comentou Fernandes.
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