Em 2023, o Ceará teve 1,25 Terawatt-hora (TWh) de energia elétrica furtada, segundo dados da Enel Ceará e da Associação Brasileira de Distribuidores de Energia Elétrica (Abradee). Esse volume, conhecido popularmente como ‘gatos’, seria suficiente para abastecer os municípios de Caucaia, Maracanaú, Sobral e Juazeiro do Norte juntos por um ano.
O levantamento da Abradee, baseado em informações da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), revelou que o Brasil atingiu um recorde de perdas não técnicas (PNT), totalizando 40,78 TWh em 2023. No Ceará, o percentual de energia furtada chegou a 15,6%, tornando o estado o terceiro no Nordeste com maior incidência de ‘gatos’.

Impacto na tarifa e no fornecimento
A Enel Ceará explica que o valor pago pelo consumidor é influenciado pela energia furtada, pois parte dessa perda é incorporada ao cálculo da tarifa. Isso pode resultar em aumentos nas contas de luz. Estima-se que, no ano passado, os ‘gatos’ representaram um impacto de R$ 6,3 bilhões para os consumidores brasileiros.
Além do custo financeiro, a qualidade do fornecimento de energia também é afetada. O sistema elétrico é projetado para uma demanda esperada, mas as ligações clandestinas não são contabilizadas, causando superaquecimento, sobrecarga e até curto-circuitos. Essas ações também representam um alto risco de acidentes, inclusive fatais.

“Um ‘gato’ oferece um risco muito grande, não só para o usuário que está utilizando aquela energia furtada, mas também para as pessoas que circulam naquela região. Pode ter um cabo partido, pode deixar, por exemplo, o medidor energizado acidentalmente. Então, tem uma série de riscos, não só o financeiro”, alerta Eduardo Gomes, gerente de Leitura e Inspeções da Enel Ceará.
Cenário nacional
Entre 2022 e 2023, as perdas não técnicas no Brasil aumentaram 20%, passando de 34,15 TWh para 40,78 TWh. Caso essa energia fosse gerada por uma usina, seria a segunda maior do país. Marcos Madureira, presidente da Abradee, destacou que o valor das perdas no último ano foi de R$ 12,7 bilhões, comparando o montante ao roubo do Banco Central em Fortaleza, em 2005, atualizado para R$ 438 milhões. “É como se tivéssemos um assalto ao Banco Central a cada 13 dias no Brasil”, comparou.

‘Gatos’ em áreas de alta renda
Ao contrário do que se imagina, as ligações clandestinas não se concentram apenas em áreas de vulnerabilidade social. Eduardo Gomes explica que locais de maior renda também registram grandes volumes de energia furtada.
“Nós temos um preconceito que se concentra nessas regiões menos abastadas, mas muito pelo contrário. Nós temos, infelizmente, em regiões nobres da cidade e não é um caso ou outro não, são muitos. Aldeota, Meireles, Papicu, comércios e restaurantes”, disse.
Carlos Madureira complementa afirmando que as perdas não técnicas ocorrem em todos os segmentos da sociedade. Nas áreas mais ricas, os mecanismos para viabilizar ligações clandestinas são mais sofisticados, como artefatos para burlar medidores.
Acompanhe mais notícias da Rede ANC através do Instagram, Spotify ou da Rádio ANC.