
Qual é a escola que os adolescentes almejam? Para compreender as demandas dos estudantes do 6º ao 9º ano do ensino fundamental, o Ministério da Educação (MEC) aplicou um formulário com diversas categorias para mais de 2 milhões de alunos. No Ceará, as atividades práticas e o protagonismo nas decisões foram os pontos mencionados como os mais valorizados pelos estudantes.
O documento com os resultados, divulgado em 15 de outubro, tem como finalidade auxiliar redes e escolas na promoção de uma escuta qualificada dos estudantes dos anos finais, utilizando ferramentas adequadas a cada faixa etária. Assim, é possível ampliar a percepção da comunidade escolar sobre os alunos e fortalecer o planejamento pedagógico.
Os 207 mil estudantes cearenses que preencheram o questionário durante a Semana da Escuta das Adolescências nas Escolas, realizada em maio de 2024, foram organizados em dois grupos: 6º e 7º ano e 8º e 9º ano. Apesar de apresentarem demandas semelhantes, há distinções sutis nas preferências.
Ambos os grupos consideram que as atividades práticas são o aspecto mais essencial na “escola do futuro”. De acordo com a psicóloga e doutora em Educação Deyseane Lima, a adolescência é uma fase do desenvolvimento em que o jovem procura entender o “para quê” do que aprende.
“Ele precisa ver utilidade e significado no conhecimento. A prática possibilita que ele experimente, questione e construa saberes de modo ativo, fortalecendo o vínculo entre teoria e prática/experiência”, explica.
“Na minha escola, muitos professores só passam cópia e mandam a gente fazer no mínimo 10 a 15 questões e acabou. E eu não aprendo quase nada”, reclama Ana Júlia Araújo Mota, 14, aluna da escola municipal Angélica Gurgel, na Messejana. Ela sente falta de um laboratório de ciências para auxiliar o aprendizado.
Interesse em tecnologias
Quando questionados sobre quais conteúdos fazem os adolescentes se desenvolverem melhor na escola, as disciplinas tradicionais foram as mais mencionadas no questionário, sendo escolhidas por 49% dos alunos de 6º e 7º ano e 38% dos de 8º e 9º ano.
Contudo, também há grande valorização de conteúdos que tratem de habilidades para o futuro, corpo e socioemocional. Entre as competências, para o 6º e 7º ano, os conhecimentos relacionados à tecnologia e mídias digitais são os mais citados (24%). Já para o 8º e 9º, a educação financeira foi a mais apontada (28%).
Conciliar a aula expositiva tradicional com tecnologias já é prática comum no planejamento do professor de Inglês da Escola Municipal Marieta Cals, Natã Costa. “Apesar da aula tradicional ainda funcionar bastante, os alunos mostram um interesse muito grande quando tem algo tecnológico no meio”, conta. Ele diz que passou a utilizar plataformas que permitem a criação de jogos para ensinar conteúdos.
Estudantes pedem atenção ao sociemocional e protagonismo
Na categoria corpo e socioemocional, o esporte e o bem-estar foram escolhidos pela maioria dos dois grupos. Já a segunda posição para os estudantes mais novos foi arte e cultura. Para os mais velhos, o segundo conteúdo mais valorizado abrange autoconhecimento, autocuidado e saúde mental.
Os alunos foram questionados ainda sobre as formas de aprender melhor na escola. Trocas e debates foi a maneira mais mencionada pelos estudantes do 6º e 7º ano (25%). A interação fora da escola foi o aspecto destacado por 28% dos alunos do 8º e 9º ano.
Para ter uma convivência mais harmoniosa, 32% dos adolescentes disseram que a segurança e a melhoria dos espaços são fundamentais. Grupos e representações e relações com a comunidade são valorizados pelos alunos como formas de se envolver mais com a escola.