A violência contra a mulher no Brasil pode registrar um avanço expressivo nos próximos anos. Um estudo conduzido por pesquisadoras da Universidade Federal do Ceará (UFC) aponta que, mantida a tendência atual, o número de casos pode crescer até 95% até 2033, reforçando a necessidade de respostas mais efetivas do poder público.
A análise levou em conta registros oficiais de violência notificados entre 2013 e 2023, período em que foram contabilizados mais de 2,6 milhões de casos no país. Com base nesses dados, as projeções indicam aumento gradual, com crescimento anual mais acentuado ao longo da próxima década. O estudo utilizou informações do Sistema de Informações de Agravos de Notificação (Sinan) e dados populacionais do IBGE, e foi publicado no Journal of Interpersonal Violence.

Os resultados mostram que o problema atinge mulheres em diferentes fases da vida. A violência física segue como a ocorrência mais comum, enquanto os casos de violência sexual apresentam crescimento proporcionalmente maior, especialmente entre meninas e adolescentes. O levantamento também aponta aumento das notificações envolvendo mulheres idosas, fenômeno associado ao envelhecimento da população e à maior vulnerabilidade social.
De acordo com a pesquisa, a maioria das agressões acontece no ambiente doméstico e é praticada por pessoas próximas às vítimas. Em cerca de 40% das notificações, há registros de violência recorrente, com sobreposição de diferentes tipos de agressão. As autoras destacam que a violência psicológica costuma ser o primeiro passo, abrindo caminho para abusos físicos, patrimoniais e sexuais.
Outro fator que agrava o cenário é a subnotificação. Dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública indicam que mais de 60% das vítimas não procuram ajuda, o que reduz a visibilidade do problema e compromete a formulação de políticas públicas. Além disso, a ausência de informações sobre o desfecho da maioria dos casos dificulta o acompanhamento das vítimas pelos serviços públicos.
Para as pesquisadoras, os números projetados não representam um destino inevitável, mas um alerta. Elas defendem investimentos contínuos na rede de proteção, integração entre os sistemas de saúde, assistência social e justiça, além de ações preventivas e educativas. “Há necessidade imperiosa de mobilização do governo e da sociedade civil para frear e, idealmente, reduzir a violência contra a mulher”, afirma a professora Mônica Oriá, do Departamento de Enfermagem da UFC.

