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Funceme usará satélite para monitorar qualidade da água em açudes

Foto: Reprodução

A Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme) está desenvolvendo uma nova maneira de observar a qualidade da água dos açudes cearenses. O acompanhamento, que atualmente é realizado presencialmente por equipes da Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh), passaria a ser feito por meio de sinais de satélite.

A técnica integra o estudo inédito “Modelagem e Monitoramento Espacial da Qualidade de Água dos Açudes no Estado do Ceará”, que está sendo executado pela Fundação desde 2023.

O método opera a partir de um espectro eletromagnético emitido por satélite, que provoca reações em componentes como a clorofila, que em grandes proporções, podem apontar a eutrofização da água. Com base nessas reações, é possível identificar quais regiões do açude apresentam níveis mais altos de substâncias nocivas à água e em que momento a eutrofização se agravou.

Entre as vantagens da nova abordagem está uma maior regularidade no monitoramento. O que hoje é feito de maneira pontual pela Cogerh, em visitas que entre a coleta e a análise em laboratório levam de três a quatro meses, passaria a ser realizado semanalmente.

Para a coordenadora do projeto, Clécia Guimarães, a nova modalidade de sensoriamento deve fornecer ao Poder Público dados mais exatos sobre quando e por qual motivo a água de determinado açude está sofrendo eutrofização.

“A partir do momento que eu consigo estar monitorando frequentemente a eutrofização de um reservatório, eu posso desenvolver estudos para saber porque a eutrofização está acontecendo localmente. E também aprofundar o conhecimento dentro desse reservatório para saber se aquela concentração de clorofila e turbidez não está à formação de compostos tóxicos à população”, afirma a pesquisadora da Funceme.

Até agora, 13 açudes já foram analisados com uso do satélite, entre eles Castanhão, Orós e Banabuiú, os três maiores do Estado. O gigante de Alto Santo, inclusive, apresentou um dos mais relevantes resultados até agora, já que por meio do monitoramento por satélite, foi possível concluir que a eutrofização do açude estava diretamente relacionada ao período de estiagem que atingiu o Ceará de 2012 a 2018.

O quadro mais preocupante é o do açude Curral Velho, localizado no município de Morada Nova, que apresenta elevados índices de eutrofização. De 2018 até 2023, o reservatório registrou os maiores níveis de clorofila e turbidez da água entre os 13 equipamentos monitorados.

Neste caso específico, Guimarães alerta para a possibilidade do surgimento de cianobactérias, organismos extremamente tóxicos que podem causar problemas intestinais, dermatológicos e em outros órgãos.

“O Curral Velho é uma passagem. Serve como meio de transporte do Castanhão e do Orós para a Região Metropolitana. Aumentar o estudo sobre o Curral Velho é importantíssimo nesse momento. Entender porque a água quando chega no Curral Velho ela está ficando tão eutrofizada vai ser um passo futuro”, explica Guimarães.

Estudo deve ser ampliado para todos os açudes do Estado

Os resultados obtidos até o momento no estudo estão sendo apresentados à Cogerh, para que futuramente, a metodologia possa ser aplicada em todos os reservatórios do Estado. A instituição participou inclusive de todas as fases do levantamento, desde a seleção dos açudes até a coleta dos dados, e deverá ainda receber capacitação técnica para utilizar a metodologia.

Ainda não há uma data definida para que a ampliação ocorra. Contudo, a Funceme afirma já manter tratativas avançadas com a Cogerh para que a ferramenta seja regionalizada e integrada ao portal hidrológico da Companhia, que reúne dados sobre os 157 açudes atualmente monitorados por ela.

“Como ela [Cogerh] já vem trabalhando com a gente nesse projeto e já entende como funciona essa metodologia, a gente já conversou bastante da apresentação disso dentro do portal hidrológico e como a Cogerh vai poder utilizar essas informações”, explica Guimarães.

O próximo passo para que isso se concretize, entretanto, não está sob responsabilidade das estatais, mas sim do Institut de Recherche pour le Développement (IRD), entidade francesa encarregada por gerir as imagens produzidas pelo satélite.

As regiões onde se encontram os 13 açudes monitorados passaram por um aprimoramento de imagem, concedido à Funceme pelo IRD, para viabilizar a aplicação da técnica de sensoriamento remoto. A negociação agora busca estender esse ajuste nas imagens para todo o Ceará, permitindo a ampliação do serviço em todo o território estadual.

“A gente está dependendo da liberação dessas imagens para poder aplicar para todo o estado. Aí sim vamos ter condições de disponibilizar no portal hidrológico para todos os reservatórios que hoje estão sendo monitorados pela Cogerh”, pontua a pesquisadora.

A expectativa é de que, diante dos resultados alcançados e comprovada a relevância do monitoramento, “não muito longe” todo o estado esteja coberto com a melhoria de imagens, ressalta Guimarães.

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