
A indústria de transformação apresentou retração de 5,3% no faturamento real em agosto, em comparação com julho, conforme os Indicadores Industriais divulgados nesta terça-feira (7) pela Confederação Nacional da Indústria (CNI). O desempenho confirma um cenário de desaceleração: o indicador acumula quatro quedas nos últimos seis meses.
Em julho, o índice havia mostrado estabilidade, com leve alta de 0,4% em relação ao mês anterior. A queda registrada em agosto influenciou negativamente o resultado acumulado do ano. De janeiro a julho, o setor de transformação havia avançado 5,1% na comparação com o mesmo período de 2024. Com a incorporação dos dados de agosto, o crescimento caiu para 2,9% frente aos oito primeiros meses do ano passado.
De acordo com a especialista em Políticas e Indústria da CNI, Larissa Nocko, a queda ocorreu em 16 dos 22 segmentos analisados da indústria de transformação e foi puxada principalmente por biocombustíveis e alimentos, setores com grande peso na pesquisa mensal realizada pela Confederação.
Nocko destaca como um dos principais fatores para a retração o elevado patamar dos juros, que encarece o crédito e reduz as projeções de crescimento econômico. “Esse comportamento mais fraco da indústria de transformação também está associado a uma entrada muito importante de bens importados, especialmente bens de consumo, voltados para o consumidor final, e isso captura uma boa parte do mercado consumidor da indústria nacional”, acrescenta.
Para a especialista da CNI, a nova política comercial dos Estados Unidos e o atual cenário para o comércio exterior podem ter influenciado os resultados do mês e devem continuar impactando os próximos meses. “Com o real mais valorizado, os produtos acabam ficando mais caros lá fora e as indústrias exportadoras perdem mercado consumidor. Além disso, essa escalada do ambiente global de incertezas é prejudicial para o ambiente internacional de negócios e as expectativas de crescimento global são reduzidas”, detalha.
O professor do Departamento de Economia da Universidade de Brasília (UnB), Victor Gomes, ressalta a importância da indústria para a economia nacional. “O setor industrial que causa um dinamismo na economia. Ou seja, você tem um setor que gera muito valor, que consegue gerar valor adicionado, salários mais altos, lucro ao longo da cadeia que vai ser distribuído, etc”.
Para Gomes, a reaproximação com o mercado americano é um fator fundamental para a retomada do setor. “Nossa produção industrial depende muito de parceiros estratégicos. E esses parceiros estratégicos são empresas americanas. A gente contribui muito com um produto semi-acabado, com um produto intermediário. Então, se o Brasil conseguir fechar algum acordo na contramão de que outros mercados não estão conseguindo fechar, como os Estados Unidos, vai ser um ponto positivo”, defende.
Atividade e emprego
O número de horas trabalhadas na produção diminuiu 0,3% em agosto. Apesar disso, o indicador ainda aponta crescimento de 1,6% no acumulado do ano. O emprego industrial permaneceu estável pelo quarto mês seguido, após um ciclo de 18 meses de alta interrompido em abril. No acumulado de janeiro a agosto, o setor empregava 2,2% mais trabalhadores do que no mesmo intervalo de 2024.
Rendimento em queda e leve melhora na capacidade instalada
A massa salarial recuou 0,5% de julho para agosto e acumula retração de 2% no ano. O rendimento médio do trabalhador industrial também caiu, com queda mensal de 0,6% e de 4,1% em relação ao ano anterior.
A utilização da capacidade instalada (UCI) teve leve alta: cresceu 0,2 ponto percentual, chegando a 78,7%, após recuo em julho. Ainda assim, a média de 2025 segue 0,7 ponto inferior à verificada no mesmo período de 2024.