
Em fevereiro, os alimentos in natura e minimamente processados tiveram alta de 2,35% nos preços. Já para os processados, a inflação foi de 0,16%, enquanto para os ultraprocessados foi de 0,80%. Produtos ultraprocessados possuem menor custo de produção e não sofrem variação de preço por mudanças na safra ou fenômenos climáticos. Desse modo, esses produtos são menos afetados pela inflação. Um levantamento da coalizão Pacto Contra a Fome aponta que as pressões inflacionárias impactam de forma desigual os alimentos, dificultando o acesso à comida saudável para os mais pobres.
“As famílias mais pobres tendem a ser mais afetadas por aumentos de preços de alimentos de qualquer natureza. Em famílias de baixa renda, os gastos com alimentação representam uma parcela maior do orçamento. Quando o preço dos alimentos in natura (como arroz, feijão, legumes, frutas e carnes) aumenta, o impacto é mais severo.”revela Vitor Hugo Miro, pesquisador do FGV IBRE.
A discrepância se confirma ao longo dos anos. A inflação acumulada de 2020 a de 2025 para os alimentos naturais e pouco processados é de 49%, enquanto para os ultraprocessados foi de 38%.
A partir da Pesquisa de Orçamentos Familiares, a organização identifica uma mudança no padrão de alimentação das famílias. O consumo de hortaliças e frutas pelas famílias registrou queda de 22,4% e 8,5% na comparação entre 2008-2009 a 2017-2018. Já os ultraprocessados cresceram a participação na alimentação de 12,6% para 18,4%.
Os alimentos in natura e minimamente processados são mais expostos à variação de preços sazonais, por mudanças na produção e fenômenos climáticos. Já os industrializados podem conter alimentos com menor valor nutricional ou ter a quantidade reduzida mantendo o mesmo preço.
Ricardo Mota, gerente de inteligência da Pacto Contra a Fome, chama atenção para a necessidade de políticas públicas que garantam a produção dos itens básicos da alimentação brasileira. Isso inclui apoiar pequenos agricultores e produções familiares, que podem se beneficiar de acesso a crédito e capacitação técnica.
“Os insumos principais dos ultraprocessados, que são a soja e o milho, são tratados como commodity e aumentam o volume da produção. Enquanto os alimentos mais saudáveis têm uma queda na área plantada. O mamão, por exemplo, teve queda de 40% na produção no último ano”, aponta Ricardo Mota.
A organização Pacto Contra a Fome identifica que o movimento de alta no preço dos alimentos se intensificou em outubro de 2024, afetando de forma mais severa os alimentos saudáveis, suscetíveis aos fenômenos climáticos.
Em fevereiro, os itens que mais subiram de preço foram o café moído, o tomate, a cenoura e o frango. Já os itens com maior queda foram o leite e a batata, que tiveram aumento de produção devido à melhoria nas condições climáticas. O café deve se manter com preços altos nos próximos meses, já que a oferta mundial se encontra em níveis baixos por problemas climáticos.
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