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Jogos Vorazes: A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes é o que se espera da franquia (Crítica)

Dirigido por Francis Lawrence (Eu Sou a Lenda), Jogos Vorazes: A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes é a expansão de uma das melhores franquias da última década, onde entrega mais profundidade a personagens importantes e mostra o que este universo tem de melhor.

Ambientado 70 anos antes do primeiro livro e filme, A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes é focado na juventude de Coriolanus Snow, vivido por Tom Blyth (Benediction), aquele que se tornaria o presidente de Panem no período dos Jogos Vorazes de Katniss Everdeen e Peeta Mellark. Nessa história, descobrimos que o personagem teve sua vida prejudicada pela guerra entre a Capital e os distritos, onde perdeu seus pais e teve toda a fortuna da família Snow extinta.

Com isso, acompanhamos o protagonista, ao lado de sua prima Tigris, tendo que sobreviver na Capital, não só com a falta de dinheiro para coisas básicas, como comida e roupas, mas também tendo que fingir que ainda são ricos, uma vez que convivem da alta sociedade de Panem. Tudo isso o filme consegue adaptar muito bem do livre, onde, ao invés de ficarem falando que a família Snow está em situação financeira miserável, tal qual o material original, a direção de Lawrence faz a escolha mais simples e certeira, nos mostrar tudo ao redor que representa isso, como a magreza de Coriolanus, a falta de roupas, o apartamento mal cuidado e uma geladeira vazia.

Determinado em voltar a deixar sua família em uma boa situação financeira, Coriolanus Snow está em busca de ganhar o Prêmio Plinth, premiação dada ao melhor aluno da Academia da Capital. Contudo, Casca Highbottom, vivido por Peter Dinklage (Game Of Thrones), um dos idealizadores Jogos Vorazes, mudou o sistema do prêmio, onde transformou os alunos em mentores dos tributos, e disse que aquele com melhor desempenho ganhará a premiação.

Snow foi designado como mentor de Lucy Gray Baird, tributo do Distrito 12 e vivida por Rachel Zegler (Amor, Sublime Amor). Agora ele, juntamente com os outros mentores, precisam fazer com que a décima edição dos Jogos Vorazes se torne mais relevante, visto que sua audiência vem caindo. Com isso, podemos acompanhar a criação de algumas tradições da “festividade”, como o sistema de patrocínio, entrevistas e apresentação vista nos outros filmes e livros.

Contudo, a parte mais importante desta reformulação vai partir do questionamento feito pela Dra. Gaul, interpretada por Viola Davis (Histórias Cruzadas): “Qual a finalidade dos Jogos Vorazes?”. Assim como Snow, pensamos que os jogos foram criados com o objetivo de fazer com que os distritos saibam o seu lugar e não se esqueçam no período da guerra. Mas durante a narrativa nós, como espectadores, e o protagonista entendemos que é por motivo além.

Enquanto conhece Lucy Gray, Snow tenta transformá-la ao máximo em um tributo querida pela Capital, para que ela receba mais patrocínios e tenha mais chance de vencer, consequentemente faça com que ele ganhe o prêmio. Durante o seu convívio, Lucy Gray vai se mostrando como alguém que o protagonista pode confiar e que possuem mais em comum do que imaginam, onde a maior diferença é que Snow precisa esconde tudo o que os aproxima.

Contudo, na minha perspectiva, a relação dos dois personagens principais foi prejudicada neste processo de adaptação de livro para o filme. No material original, os embates ideológicos entre Snow e Lucy Gray, de opressor e de oprimido, são muito mais fortes. Além disso, o romance construído, apesar de não ser o ideal, ainda é melhor elaborado do que foi mostrado em tela. 

Eu percebo que isso foi feito para dar ênfase no que acontece na arena e nos jogos em si, uma vez que são esses momentos de ação que irão fazer com que o filme seja mais bem recebido no público geral. Isso faz com que Sejanus Plinth, personagem vivido Josh Andrés Rivera (Amor, Sublime Amor), se destaque, visto que ele é único entre os mentores que vem de um dos distritos, e que tenha o mínimo de consciência de classe que o restante não tem. 

Sejanus não é único que se mostra contra os Jogos Vorazes, durante o filme é mostrado de maneira indireta que existe uma rebelião que luta contra os jogos e contra a capital. Além disso, assim como os quatro filmes anteriores, é mostrado que existem outras maneiras de lutar contra um sistema ditatorial além do conflito bélico. No caso de A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes, é através das músicas cantadas por Lucy Gray, onde possuem uma “indireta” bem forte a capital, juntamente com uma bela voz de Rachel Zegler.

Porém, como é dito diversas vezes durante a franquia: “A Capital só pensa nela mesma”. Isso é representado neste novo filme através de Corolianus trapaceando para Lucy Gray vencer a sua edição dos Jogos Vorazes. Enquanto no livro enfatiza que o protagonista fez isso também por amá-la, a adaptação deixa claro que o personagem fez isso por benefício próprio. 

As trapaças de Snow, além de ter proporcionado as melhores cenas do filme, com direção e fotografia caprichadas, também o gerou consequências. Quando descoberto, o personagem foi expulso da academia e designado para ser um pacificador em um dos distritos. É a partir daí que o projeto começa a se distanciar um pouco do material original e a desandar um pouco, não que um ponto tenha relação com o outro. 

O terceiro ato de A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes cortou muitos momentos da última parte do livro, compreensível, visto que ele possui quase 600 páginas. No entanto, isso fez com que essa reta final ficasse apressada, e até mal construída, visto que o protagonista sofre muito nesse período no livro, enquanto no filme ele aparenta estar lidando com o seu exílio.

No entanto, enquanto a relação de Snow e Lucy Gray aparentava ser meio fraca no início e na metade do filme, no terceiro ato ambos se aprofundam, principalmente nos embates ideológicos, fazendo com que ambos percebam que se amam, mas que tem pensamentos opostos, principalmente no que diz respeito aos Jogos Vorazes.

Em sua vivência como mentor, Snow entendeu que a Capital criou os Jogos Vorazes para ser além de um castigo aos distritos, mas também para ser uma espécie de separação da selvageria e da civilidade. Ou pelo menos do que eles acreditam ser o significado de cada um desses aspectos. Não é à toa que com o decorrer da narrativa, Snow fica próximo da “selvageria” que a Capital presa em manter longe.

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O conflito entre Snow e Lucy Gray no clímax é um dos pontos altos, onde, apesar de algumas mudanças, principalmente com a personagem de Rachel Zegler, este momento consegue ser tão tenso e envolvente quanto o do livro. Além disso, é aí que a frase dita por Corolianus a Katniss no futuro, “São as coisas que mais amamos que nos destroem”, ganha um significado e um maior impacto, fora que com isso entendemos ainda mais o seu ódio e medo da protagonista dos filmes originais.

Lucy Gray por sua finaliza sua história da maneira que mais encaixa consigo mesma, misteriosa e audaciosa, além de mostrar como lutar contra um sistema tirano mesmo sem precisar pegar em uma arma. Nos deixando a mensagem que uma voz com uma música pode incomodar e impactar tanto quanto o tiro de uma arma.

Por fim, Jogos Vorazes: A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes, apesar das mudanças, consegue trazer a essência do livro, que é a luta contra o tiranismo e ódio de uma classe rica a um povo oprimido. Além disso, Francis Lawrence em seu quarto filme na franquia consegue mais uma vez misturar bem ação com a mensagem que a obra carrega. Junto a tudo isso, ainda o bom trabalho do elenco, sejam nomes consagrados ou aqueles que buscam ascensão, fora um trabalho musical e fotográfico notáveis.

Nota: 8,5/10

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