A costa litorânea do Ceará tem 573 quilômetros de extensão e é a terceira maior do Nordeste brasileiro. Desse total, 34 km estão no litoral do município de Fortaleza. Apesar disso, a maioria dos municípios litorâneos não conta com postos fixos de salva-vidas nas principais praias. Isso reflete no aumento dos casos de afogamentos registrados nas praias de Fortaleza e demais cidades com orla.
Desde 2022, quando Fortaleza recebeu uma Beira Mar totalmente reformada, o local assumiu um novo perfil com a prática de diversas atividades esportivas e de lazer. Desde então são frequentes os casos de afogamento, inclusive fatais. O último foi o da morte de um adolescente de 15 anos, que estava em um caiaque com amigos e teria sido orientado pelo instrutor a voltar à costa nadando e acabou morrendo.
Foto: Reprodução
O caso de grande repercussão na imprensa cearense abre novas reflexões e questionamentos sobre a segurança de quem prática esportes náuticos na nova configuração da Avenida Beira-Mar. Apesar do espaço estar sendo muito explorado pelas práticas esportivas e de lazer ao mar, a segurança e a quem compete a missão de proteger os que ali frequentam ainda é um ponto a ser questionado. A nossa reportagem entrou em contato com o Corpo de Bombeiros, Prefeitura de Fortaleza e Capitanias dos Portos da Marinha Brasileira no Ceará para obter essas respostas que o opinião pública tanto quer saber.
O Corpo de Bombeiros afirma que não atua na área da Beira-Mar de Fortaleza e que a área de atuação para prevenção a salvamento de pessoas em situação de afogamento é da Guarda Municipal da Prefeitura de Fortaleza. O Corpo de Bombeiros atuou nesse caso do garoto de 15 anos após solicitação de familiares e amigos da vítima via atendimento por telefone da central da polícia e pelo sistema de videomonitoramento das Forças de Segurança que fica ao final da Avenida Beira -Mar.
A Inspetoria de Salvamento Aquático (ISA) da Guarda Municipal de Fortaleza (GMF) informa, via Assessoria de Imprensa, que, entre janeiro e julho de 2024, salvou 243 pessoas de afogamento. Em 2023, foram 270, e, em 2022, 132. Ou seja, o número de salvamento de vítimas por afogamentos neste ano é quase o que foi registrado ano passado. Nós últimos dois anos, o número de salvamentos aumentou consideravelmente e toda orla de Fortaleza.
Atualmente, 75 guarda-vidas atuam de domingo a domingo, das 8 às 17 horas, distribuídos nos postos da orla da cidade, entre os bairros Barra do Ceará e Mucuripe. Além do salvamento, a equipe especializada realiza ações preventivas de caráter educativo, com orientações e abordagens a banhistas. Como esses profissionais trabalham em escala de revezamento, nem a metade desses profissionais estão disponíveis diariamente para garantir a segurança dos banhistas nos mais de 30 quilômetros do litoral de Fortaleza.
Para auxiliar no trabalho diário, a Inspetoria de Salvamento conta com três motos aquáticas, carros 4×4 (modelo pick-up) e quadriciclo. Além dos veículos, ainda utiliza materiais e equipamentos diversos que auxiliam na hora do resgate, como binóculos, flutuadores, pranchões, nadadeiras e coletes salva-vidas.
A Prefeitura de Fortaleza solicita que a população pode fazer denúncias sobre irregularidades por meio do aplicativo Fiscalize Fortaleza (disponível para Android e IOS), do site https://denuncia.agefis.fortaleza.ce.gov.br e do telefone 156. Em relação aos esportes náuticos, as Secretarias Regionais 2 e 12 da Prefeitura de Fortaleza cadastraram 14 permissionários que atuam entre a Av. Beira-Mar e a Praia de Iracema. No que condiz ao seu trabalho, a Agência de Fiscalização de Fortaleza (Agefis) realiza fiscalizações contínuas, via denúncias e busca ativa nos estabelecimentos de esportes aquáticos para a inspeção do Alvará de Funcionamento.
Além disso, a fiscalização municipal atua na verificação das autorizações de atividades comerciais exercidas nas áreas públicas da orla, bem como o cumprimento das condicionantes nelas contidas, de acordo com as permissões emitidas pelas Secretarias Executivas Regionais.
Capitania dos Portos
Entramos em contato com a Capitania dos Portos da Marinha Brasileira no Ceará , mas não obtivemos respostas.
Balanço do Corpo de Bombeiros
Os guarda-vidas do Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Ceará (CBMCE) salvaram 351 pessoas de afogamentos entre janeiro e julho de 2024. Isso no Ceará. Como não atuam na Beira-Mar de Fortaleza não divulgaram dados de salvamentos nessa região litorânea da capital cearense.
O mês de janeiro destacou-se pelo maior número de resgates, impulsionado pelo aumento de banhistas durante o período de alta estação.
Em janeiro, o maior número de salvamentos ocorreu na Praia do Futuro, em Fortaleza, onde a 1ª Companhia de Salvamento Marítimo resgatou 119 banhistas. No mês de julho, também devido à alta estação, o CBMCE registrou o segundo maior número de resgates em 2024, com 69 salvamentos na Praia do Futuro e quatro em Caucaia.
Comparando os dados, houve uma redução de 3,95% no número de resgates em 2024 em relação ao mesmo período de 2023, quando 73 vidas foram salvas. Isso indica que os banhistas estão sendo bem orientados e que o monitoramento dos guarda-vidas permanece intenso.
Orientações
O CBMCE orienta os banhistas a tomarem banho próximo aos postos de guarda-vidas sinalizados nas praias, bem como se informar se a área é própria para a atividade. Caso o banhista perceba que entrou em uma área de correnteza, e não conseguindo sair dela, a vítima deve buscar manter a calma e pedir socorro.
Caso você não possua treinamento em salvamento aquático, jamais entre na água para salvar uma vítima. Ao se deparar com uma situação de afogamento, ligue 193 imediatamente. A ligação é gratuita e o serviço funciona 24 horas por dia e sete dias por semana.
Atenção redobrada
Na praia, o CBMCE alerta que os cuidados devem ser redobrados com as crianças. Os pais ou responsáveis não devem perdê-los de vista. As correntes de retorno são as principais causadoras de afogamentos no mar e aparecem em locais rasos. A tranquilidade das águas escuras, com pouca ou nenhuma onda, são capazes de enganar facilmente.
Além disso, todas as orientações válidas para os adultos também se aplicam a elas, com um acréscimo importante: a supervisão de um responsável deve ser permanente e a uma distância máxima de um braço.