A popularização dos jogos de azar virtuais, como as apostas esportivas (BETs) e plataformas de cassino, tem causado crescente preocupação, especialmente em razão dos danos financeiros e sociais que provocam. No Brasil, essas atividades já movimentam cerca de R$ 120 bilhões anualmente, afetando severamente a economia familiar.
Prometendo ganhos fáceis, essas plataformas atraem milhões de pessoas para um ciclo vicioso de apostas, levando à ludopatia. A patologia é caracterizada pelo vício incontrolável em jogos de azar, reconhecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) desde 1980.
Os prejuízos não são apenas financeiros. Amélia Rocha, defensora pública, destaca que os jogos criam uma forma de superendividamento que afeta diretamente milhões de brasileiros. Estima-se que cerca de 50 milhões de pessoas enfrentam essa situação, muitas vezes sem os recursos mínimos para garantir uma existência digna.
“São pessoas que não têm o mínimo existencial; o básico do básico para viverem. Diferente do superendividamento convencional, que vai surgindo com o tempo, o que esses jogos fazem é criar um superendividamento repentino. É preciso cuidado”, alerta.
Além das perdas econômicas, as consequências podem afetar o âmbito familiar. Noêmia Landim, supervisora do Núcleo de Atendimento da Defensoria Pública da Infância e da Juventude, chama a atenção para o impacto dessas dívidas sobre os direitos de crianças e adolescentes. “Em casos extremos, em que os filhos sejam deixados em situação de vulnerabilidade, os pais podem até perder a guarda, se comprovado estado de negligência e abandono”, destaca.
A ludopatia afeta pessoas de todas as idades e classes sociais. Há, inclusive, casos de adultos que perderam suas economias inteiras, desde aposentados até pais e mães de família que, após quitarem suas casas, recorreram ao refinanciamento imobiliário para continuar jogando.
A facilidade de acesso às apostas virtuais, amplificada pela internet e a promoção constante por influenciadores digitais, tem intensificado o problema. O que antes era limitado a frequentadores de cassinos, agora está ao alcance de qualquer pessoa com um celular. Estimativas apontam que as plataformas de apostas já movimentam valores próximos ao PIB de estados como o Piauí, Roraima, Amapá e Acre combinados.
A pandemia também acelerou a adesão aos jogos virtuais. Entre fevereiro e julho de 2023, 25 milhões de pessoas começaram a usar essas plataformas, com uma predominância de mulheres de classe média-baixa. Por fim, os reflexos psicológicos entre os mais jovens também são motivo de preocupação. Embora não acumulem grandes dívidas, os adolescentes expostos a essas plataformas podem desenvolver dependências que afetam seu desenvolvimento físico, emocional e social.
“Eles [os jogos] representam risco, uma vez que podem levar a problemas de dependência, impactando negativamente seu desenvolvimento físico, emocional e social das crianças e adolescentes. Além de que pode aumentar a propensão para diversos tipos de vícios”, explica Noêmia.
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