Dados da Plataforma Nilo Peçanha mostram que 59,95% dos estudantes matriculados no Instituto Federal do Ceará (IFCE) em 2024 se autodeclaram negros — sendo 53,27% pardos e 6,68% pretos. O índice vem crescendo de forma contínua desde 2017, quando a instituição registrava 44,71% de alunos pardos e 4,33% de pretos, totalizando 45,04% de estudantes negros.

Se, por um lado, as ações nos territórios impulsionam a mobilização, por outro, os dados consolidados são fundamentais para desenhar políticas públicas eficazes. Com esse propósito, em 2023 foi criado o Observatório de Cotas do IFCE — iniciativa pioneira no país. A ferramenta foi desenvolvida pela professora Cristiane Sousa da Silva, chefe do Departamento de Extensão Social e Cultural, e por uma equipe de servidores da Pró-Reitoria de Extensão.
“Hoje temos 166 mil matrículas analisadas. Isso nos permite enxergar quem são os sujeitos de direito das políticas afirmativas e acompanhar sua trajetória dentro da instituição”, destaca a docente.
Observatório de Cotas: dados que orientam políticas públicas
O Observatório de Cotas, criado em parceria entre o Laboratório de Redes de Computadores e Sistemas (LAR) e a Pró-Reitoria de Extensão, tem como objetivo apoiar o enfrentamento das desigualdades raciais e sociais no instituto. Atualizado em 29 de julho de 2025, o sistema reúne informações sobre 166 mil matrículas registradas desde 2012.
Desse total, 39 mil estudantes (23,6%) ingressaram pelo sistema de cotas previsto na Lei nº 12.711. Entre eles, 4.245 são pretos (10,83%) e 23.313 são pardos (67,14%). Os dados também revelam que a maioria dos ingressantes é do sexo masculino (53,04%), mas a taxa de conclusão é maior entre as mulheres, que representam 53,25% das certificações e formaturas.
O aumento do ingresso de estudantes negros no IFCE também está ligado à implantação das ações de heteroidentificação, estabelecidas pelo Regulamento nº 87/2019. Antes do procedimento, o sistema adotava apenas a autodeclaração, o que levou a inúmeros relatos de fraudes em todo o país. A implementação das comissões de aferição é resultado da mobilização nacional em defesa das cotas raciais, reforçada no IFCE pelo trabalho dos Núcleos de Estudos Afro-Brasileiros e Indígenas (NEABIs).
A iniciativa ganhou projeção ao ser apresentada na Reditec 2025 (Reunião Anual dos Dirigentes das Instituições da Rede Federal), onde conquistou o segundo lugar na categoria Gestão de Pessoas.
“Sem dados, não há política pública sólida. O observatório permite pensar estratégias não só de acesso, mas também de permanência e êxito dos estudantes cotistas”, ressalta Cristiane Sousa.
As informações já embasam pesquisas acadêmicas e trabalhos de conclusão de curso, inclusive na área de computação, e devem futuramente ser integradas à própria Plataforma Nilo Peçanha, ampliando o alcance da ferramenta para toda a Rede Federal.
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