O desmatamento já alcança quase todos os municípios da Caatinga, de acordo com estudo divulgado em 2025 pelo MapBiomas. O levantamento revela que o bioma sofre com uma perda de vegetação fragmentada, diferente de ecossistemas como a Amazônia e o Cerrado, onde a devastação costuma ocorrer em grandes extensões contínuas. Na Caatinga, a média é de cerca de 10 hectares por evento, o que dificulta o rastreio.
Para o geógrafo Diego Costa, integrante do MapBiomas, essa pulverização das áreas desmatadas complica a fiscalização e está frequentemente ligada à agricultura de subsistência ou ao uso extensivo do solo. Com isso, o profissional defende que as respostas do poder público precisam ser adaptadas à realidade local.

Além disso, o avanço sobre as zonas de desertificação preocupa os pesquisadores. Essas áreas degradadas correm o risco de atingir um ponto de não retorno, em que o solo perde a capacidade de regeneração e o microclima é alterado, comprometendo a biodiversidade e a produtividade agrícola.
Diante desse cenário, a Associação Caatinga já recuperou 264,5 hectares com o plantio de 300.882 mudas nativas. Parte delas foi produzida com a técnica de raízes alongadas, que utiliza canos de PVC para favorecer o crescimento das plantas antes do replantio. A metodologia garante taxa de sobrevivência de 70%, mais que o dobro da média convencional no bioma.
Segundo o diretor executivo da entidade, Daniel Fernandes, a prevenção é essencial para evitar que a degradação avance. “Conservar a Caatinga vai muito além de proteger áreas naturais ou espécies nativas. É, também, apoiar as comunidades que vivem nesse bioma, oferecendo alternativas sustentáveis de produção, acesso à água e capacitações para a convivência com o semiárido”, comenta.
Com essa perspectiva, a Associação Caatinga também atua na criação e gestão de Unidades de Conservação (UCs). A entidade já apoiou a implantação de 33 Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPNs) e cinco unidades públicas, que somam mais de 105 mil hectares protegidos, o equivalente a três vezes a área de Fortaleza. As iniciativas estão distribuídas pelo Ceará, Rio Grande do Norte e Piauí.

Entre as principais áreas está a Reserva Natural Serra das Almas, com 6.285 hectares, localizada entre Crateús (CE) e Buriti dos Montes (PI). No local, são desenvolvidas ações socioambientais voltadas à sustentabilidade e geração de renda nas comunidades vizinhas, como implantação de cisternas, canteiros biosépticos, fornos solares, sistemas bioágua e meliponicultura, que é a criação de abelhas sem ferrão.
As famílias que recebem as tecnologias passam por capacitação e acompanhamento técnico, o que garante o uso adequado das soluções e amplia os resultados. Essa metodologia integra o Modelo Integrado de Conservação da Caatinga, que une preservação ambiental, inovação social e desenvolvimento local, mostrando que a proteção do bioma depende do envolvimento direto das comunidades sertanejas.
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