Embora a renda nominal dos brasileiros mais pobres tenha crescido de forma significativa nos últimos anos, o valor ainda está longe de garantir uma alimentação equilibrada. Segundo o Boletim Mensal de Monitoramento da Inflação dos Alimentos, divulgado pelo Instituto Pacto Contra a Fome, os 5% mais pobres da população tiveram um aumento de 218% em seus rendimentos entre 2018 e 2024. No entanto, em 2024, a renda média domiciliar per capita desse grupo foi de apenas R$ 154 mensais, valor insuficiente para cobrir o custo da cesta NEBIN, referência nutricional composta por 84 itens saudáveis, que chegou a R$441 por pessoa/mês.
A cesta NEBIN, desenvolvida por pesquisadores da UERJ, USP e UNIFESP, é formada majoritariamente por alimentos in natura e minimamente processados, em linha com o Guia Alimentar para a População Brasileira. Considerada uma alternativa mais nutritiva e sustentável ao modelo tradicional de inflação alimentar do IPCA, a NEBIN tem revelado um quadro alarmante de exclusão nutricional.
A desigualdade torna-se ainda mais evidente quando se observa o recorte regional. Segundo o levantamento, 81,7% da população do Nordeste e 75,3% da região Norte não conseguem arcar com o custo da cesta NEBIN. No Centro-Oeste, o índice é de 72,3%. Já nas regiões Sul e Sudeste, os percentuais de exclusão alimentar são menores, 56,6% e 66,6%, respectivamente, mas ainda preocupantes. No total, 70,6% da população brasileira, segundo os cálculos com base na PNAD Contínua, não teriam renda suficiente para adquirir uma alimentação minimamente saudável.
“A fome no Brasil é, cada vez mais, uma expressão direta da desigualdade socioeconômica e da pobreza estrutural. Não se trata apenas de produzir alimentos em quantidade suficiente, mas de garantir que eles sejam acessíveis a todos”, alerta Maria Siqueira, codiretora do Pacto Contra a Fome. Mesmo com a inflação oficial (IPCA) registrando desaceleração em maio, 0,26%, frente aos 0,43% de abril, o alívio nos preços dos alimentos ocorre paralelamente à alta em outros grupos de despesas incomprimíveis, como habitação e saúde.
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