O consumo abusivo de álcool entre mulheres brasileiras triplicou nas últimas quatro décadas e praticamente dobrou nos últimos 20 anos, segundo dados do Sistema de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel), do Ministério da Saúde. Em 2006, 7,8% das mulheres relataram beber em excesso e, em 2023, o índice subiu para 15,2%. O aumento é mais pronunciado entre mulheres jovens e negras. Entre os homens, a taxa permaneceu elevada e estável, passando de 25% para 27,3%.
Especialistas atribuem o crescimento a fatores sociais, econômicos e psicológicos. Entre os exemplos, a entrada feminina em espaços antes dominados por homens, estratégias de marketing direcionadas a mulheres, sobrecarga de trabalho e responsabilidades domésticas, além de traumas e abusos, que podem desencadear transtornos que aumentam o risco de alcoolismo.

Apesar da gravidade, apenas uma em cada 18 mulheres com diagnóstico de uso de substâncias psicoativas recebe tratamento, enquanto a proporção entre homens é de um a cada sete, segundo o Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC). Uma pesquisa da Universidade de São Paulo (USP) de 2021 mostrou que mulheres em grupos de Alcoólicos Anônimos (AA) na capital paulista relataram desconforto em participar de programas mistos, devido a assédio e discriminação sexista. Além disso, sentimentos de culpa e redes de apoio frágeis dificultam ainda mais o acesso feminino a tratamentos.
Saúde
A metabolização do álcool no corpo feminino agrava os efeitos do consumo. Enquanto o uso excessivo é definido como cinco ou mais doses em uma ocasião para homens, para mulheres basta quatro doses. O fenômeno, conhecido como “telescoping”, acelera a dependência e o surgimento de doenças associadas.

Entre as consequências do abuso de álcool estão aumento do risco de câncer de mama, doenças hepáticas, transtornos mentais como depressão e ansiedade, problemas cardiovasculares. Durante a gravidez, o consumo de bebidas alcóolicas pode causar a Síndrome Alcoólica Fetal (SAF).
O excesso de álcool causa cerca de 105 mil mortes por ano no Brasil, sendo 14% mulheres. De 2010 a 2021, os óbitos femininos por consumo excessivo aumentaram 7,5%, enquanto entre os homens houve queda de 8%, de acordo com o Centro de Informações sobre Saúde e Álcool (Cisa). Um levantamento da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) indicou que 1.438 mulheres morreram em 2022 por condições de saúde agravadas pelo álcool, segundo o Observatório Brasileiro de Informações sobre Drogas (Obid).
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