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Mussum, O Filmis vai além de uma homenagem (Crítica)

Dirigido por Silvio Guindane (Como Nascem Os Anjos), Mussum, O Filmis é um dos grandes destaques do cinema brasileiro no ano. Além disso, o projeto não é só uma grande homenagem ao artista, mas uma mensagem dos vários poderiam e podem ser o mesmo.

Assim como a maioria das cinebiografias, começamos esta história acompanhando a infância do Antônio Carlos Bernardes Gomes, antes de se tornar o Mussum. Aqui vemos a escolha que muitas crianças brasileiras precisam fazer, seguir seu sonho, no caso do protagonista ser sambista, ou estudar para ter um futuro melhor. Graças a sua mãe, vivida por Cacau Protásio (Vai Que Cola), o protagonista entra para uma boa escola, para poder ter as oportunidades que ela não teve. Por meio disso, vemos momentos emocionantes dos dois personagens, que devem lhe atingir fortemente, não só pela ótima atuação de ambos artistas, mas também pelos grandes paralelos da realidade que eles carregam. 

Anos depois vemos Carlinhos, agora vivido pelo comediante Yuri Marçal, servindo a aeronáutica, que era o sonho de sua mãe o ver lá. Contudo, como um bom brasileiro, o protagonista não desistiu do seu sonho, onde continuou servindo no quartel enquanto secretamente começava a construir sua carreira no samba. Aqui começamos a ver o protagonista tendo que decidir em qual futuro investir, sendo quase uma indecisão de uma jornada do herói. 

Além disso, é a partir daqui que percebemos que o filme de Guindane não quer mostrar apenas a trajetória do Mussum, mas também o quanto ele participou direta e indiretamente da carreira de vários artistas renomados do país. Várias das “participações especiais” do filme não só irão lhe surpreender, como também vão fazer com que você entenda o quão talentoso era o Mussum, ao ponto de diversos artistas quererem trabalhar ao seu lado.

 

Apesar do grande trabalho do elenco até a fase de jovem adulto do artista, o grande espetáculo vem com Ailton Graça (Avenida Brasil), onde é com ele que vemos o que o artista fez para ser consagrado. É a partir desse momento que vemos o sambista entrando no mundo do humor, e com a ajuda de um grande nome do meio, entendemos o porquê Mussum era tão amado. Ele era mais do que engraçado, era uma representatividade do povo brasileiro, não só durante seu trabalho, mas também em sua história fora das telas.

Ailton traz Mussum de volta a vida, conseguindo reproduzir com perfeição praticamente todos os seus trejeitos, sendo principalmente sua contagiante risada. Além do mais, o ator, ao lado de uma ótima direção, não oscila nos momentos cômicos e dramáticos, mantendo o alto nível a todo momento.

Logo após o começo do seu sucesso no humor, acompanhamos Mussum se juntando a Renato Aragão, Dedé Santana e Zacarias para criarem os Trapalhões. Com isso, continuamos a ver o impacto do artista na cultura brasileira, mas agora com um dos programas mais marcantes da TV nacional. Além disso, acompanhamos a tentativa de Mussum em administrar sua carreira no samba e na televisão, enquanto tenta dar atenção a sua família.

O roteiro por muitas vezes mostra o Mussum focando muito em sua carreira no humor, deixando consequentemente o samba de lado, por motivos financeiros. Isso faz com que o artista pareça ser ganancioso em relação ao dinheiro. Porém, por outros vários momentos, o mesmo é mostrado querendo ter a sua carreira tanto no samba quanto na tv de maneira simultânea, parecendo amar ambas e se tornando uma pessoa dúbia. 

No final das contas, Mussum foca apenas em sua carreira com os Trapalhões, e é a partir daí que entramos no clímax. O filme dá uma leve pincelada no desentendimento do grupo com Renato Aragão, que sempre foi acusado de querer toda a atenção e os lucros que os Trapalhões traziam. Porém, mesmo com tudo isso sendo pouco aprofundado, percebemos que o projeto não é sobre assunto.

A parte final do filme é focada na perda da mãe do artista, e como isso o impacta. Em uma despedida emocionante, Mussum é mostrado reflexivo com tudo que passou, entendendo que, apesar dos percalços e alguns desincentivos de sua mãe, o mesmo vê que todas as dificuldades e os desafios que passou o moldaram, e que isso, apesar de muito difícil para uma criança de baixa renda, nunca o impediram de sonhar.

O filme chega ao seu encerramento com Mussum conversando com crianças da escola de samba da Mangueira. O mesmo se enxerga naquelas jovens pessoas, e percebe que se não fosse pelas provações de sua trajetória, ele não teria se tornado quem era. Então, Ailton Graça faz um emocionante discurso sobre a importância da escola tradicional e da vida, e que, apesar de todas as dificuldades, nunca se deve desistir do que você tanto deseja. 

Por fim, “Mussum, O Filmis” é algo além de uma homenagem a um dos grandes humoristas e sambistas do Brasil. O filme consegue falar sobre como é difícil chegar ao topo e ser influente em nosso país, que sempre tentarão lhe derrubar e lhe desincentivar, mas que sempre é preciso manter o desejo vivo e ir atrás dele. O projeto até deixa de abordar de maneira mais profunda em alguns pontos, como as intrigas com Aragão e os problemas do Mussum com álcool. Mas acredito que propositalmente, já que talvez isso fugisse de sua proposta. Enfim, o projeto é, com facilidade, umas das melhores cinebiografias nacionais, por toda a homenagem ao Mussum, por suas grandes qualidades técnicas e pela sua brasilidade na vida de muitos “mussuns” que estão na luta pelos seus sonhos.

Nota: 9/10

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