A ação do Ministério Público do Estado do Ceará (MPCE) na última segunda-feira (20) caiu como uma bomba na Assembleia Legislativa. A segunda fase da operação Simulatio, realizada em um gabinete de um deputado estadual no legislativo e em imóveis em Fortaleza e Maracanaú, levantou suspeição em torno dos 46 deputados estaduais cearenses. O MPCE repassou as informações à imprensa, sem citar qual integrante daquela Casa legislativa estaria envolvido em um esquema de rachadinha. A denúncia é de que o parlamentar estaria pagando dívida a um advogado/agiota por meio de verbas de assessores do gabinete.
O esquema funcionava da seguinte forma: um deputado estadual supostamente realizava empréstimos financeiros com esse advogado/agiota, que recebia a dívida através de assessores “fantasmas” indicados pelo advogado e que estariam lotados no gabinete do deputado. Esses “servidores” repassavam parte dos salários recebidos como forma de pagar as dívidas feitas pelo deputado.
O fato de a ação do MPCE, com apoio da Polícia Civil, ter sido realizada também em Maracanaú levantou suspeição sobre os parlamentares com base eleitoral naquele município. Na imprensa local foi apontado o nome do deputado Julinho (PDT) como o possível alvo da ação. Em nota publicada em suas redes sociais o parlamentar reiterou sua inocência: “Venho a público informar que não fui alvo de nenhuma operação conduzida pelo Ministério Público”, disse Júlio em postagem no Instagram. “Sigo trabalhando, com o compromisso irrefutável, de defender os cearenses com transparência e seriedade, marcas que tenho construído em toda a minha trajetória. Estou à disposição para colaborar com o Ministério Público e a Justiça, caso seja necessário”, concluiu.
Procurada pela nossa reportagem, a Assembleia Legislativa do Ceará disse que “conforme noticiado, as investigações correm sob sigilo e não há, até o momento, nenhuma comunicação oficial à Alece sobre o assunto”, e que “a Casa aguarda o desenrolar das investigações colocando-se à disposição dos órgãos de fiscalização para as apurações que se fizerem necessárias”, finaliza a nota.
Repercussão
O deputado Heitor Férrer (União) lamenta o fato de que como a ação do MPCE ter mantido sigilo em torno do nome do deputado investigado, o caso tenha colocado todos os 46 parlamentares que compõem aquela Casa sob suspeita. “A falta de indicação de um nome relacionado ao caso causa um mal estar na Casa, mesmo a investigação sendo sigilosa”, lamentou Férrer. Ele avalia o caso como muito grave, tanto pelo fato do desvio de verba parlamentar, quanto pelo envolvimento de um advogado em agiotagem.
Procuramos ouvir o posicionamento da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), secção Ceará, mas até o fechamento desta matéria não obtivemos resposta. Esta reportagem será atualizada quando o órgão ou qualquer um dos citados queira se manifestar.