No próximo dia 27 de outubro, a população de Fortaleza terá um novo encontro com as urnas, dessa vez com dois candidatos que reeditam a polarização nacional: André Fernandes (PL), que saiu na frente com 40,20% dos votos, e Evandro Leitão (PT), com 34,33%. Mas para onde irão as campanhas nesse momento? O que as alianças em torno dos candidatos pode favorecer ou complicar a situação contra o adversário político? A Rede ANC ouviu cientistas políticos para tentar entender essa situação.
De acordo com o doutor em sociologia pela UFC (Universidade Federal do Ceará) e professor de teoria política na UECE (Universidade Estadual do Ceará), Emanuel Freitas, a polarização foi alimentada por quem mais precisou dela, no caso a campanha de Evandro, num movimento que acabou o levando até o segundo turno por ser o candidato do presidente Lula. “O André não precisava polarizar para crescer”, diz ele, pois o candidato do PL “furou a bolha” em não pegar a rejeição que Jair Bolsonaro tem para ainda sim prosseguir na disputa.
“André usa essa questão de quem está no poder e que ele é contra o sistema. Uma gramática populista de caráter local em que ele é mais eficiente”, avalia. Mas o cientista político pondera que os apoios recebidos por André neste segundo turno, como os de Capital Wagner (União Brasil), do PSDB e de parte do PDT, como do ex-prefeito Roberto Cláudio, podem ser um trunfo nas mãos do concorrente, Evandro Leitão, que pode demonstrar uma outra lógica por trás do uso do “sistema”, o relacionando justamente a esses novos apoiadores.
O papel dos apoios
Nesse sentido, o suporte que causou maior surpresa nos últimos dias veio de alas proeminentes do PDT local, que não levou o prefeito José Sarto para o segundo turno, o que fez dele o primeiro chefe do executivo municipal a não se reeleger desde que esse dispositivo foi aprovado em 1997. Emanuel diz enxergar que esses apoios “parecem mais uma vingança contra o Camilo”, Ministro da Educação e ex-governador do estado, por conta dos arranjos fracassados na sucessão estadual ainda em 2022, que colocou o antigo grupo de aliados em campos opostos.
No que ele chama de “atitude arriscada” por parte do PDT, o professor avalia que esse movimento do partido no âmbito local não garante um papel de oposição ao grupo de Camilo, que saiu fortalecido das eleições mesmo com a derrota em Juazeiro do Norte, pois, segundo ele, existe um rearranjo de forças para 2026 em que André Fernandes e seus aliados de primeira hora já se colocam nesse papel, no que concorda João Paulo Bandeira, doutor em ciências sociais, mestre em políticas públicas e professor de sociologia e política-IFCE.
“O PDT perde nos dois cenários, perde até mais se o Evandro for eleito do que o André. O PDT não compete com o PL, o PDT compete com o PT”, resume. Na sua avaliação, o que vem acontecendo é um movimento de “politização da direita”, não só em Fortaleza, mas como em todo país, principalmente por conta do discurso que vem sendo utilizado. “Não é um diálogo que pense no coletivo, mas no individualismo, no sucesso pessoal”, uma mensagem que, como se observa, tem angariado muitos votos principalmente entre os jovens e nas periferias da capital. O professor também vê um certo dilema da campanha de André, que na sua visão, vai intensificar as práticas bolsonaristas, enquanto garante seus votos nesse grupo mas foge da rejeição do ex-presidente a fim de conquistar outros eleitores.
Tudo pode ficar como está
Porém, ambos os especialistas divergem quanto à possibilidade de uma virada entre os candidatos. Para Emanuel, as pesquisas mostram que ainda falta para Evandro capturar mais votos dos eleitores lulistas, pois André já tem 100% do voto antipetista e da direita. Quando se fala em voto útil, João Pedro observa que Fortaleza sempre teve essa característica em particular, como se viu no primeiro turno. Evandro recebendo votos de eleitores de Sarto, e André por parte dos de Wagner. Mas para ele, existe um sentimento de mudança por parte do progressismo contra o fascismo que pode dar uma chance de virada em torno da candidatura do PT.
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