Desde 2007, a Comunidade Quilombola do Cumbe, em Aracati, lida com os impactos da instalação de um parque eólico em seu território. A promessa inicial de desenvolvimento e criação de empregos foi bem recebida pelos moradores, mas os efeitos negativos se prolongam até os dias atuais, trazendo à tona conflitos sobre a preservação ambiental e os direitos da comunidade.
João do Cumbe, um dos líderes comunitários, conta que a instalação do parque resultou na perda do acesso direto à praia. “Tivemos que procurar a Defensoria Pública para poder assinar um Termo de Ajustamento de Conduta e voltar a ter o acesso”, comentou.
Estudos liderados pelo professor Antonio Jeovah de Andrade Meireles, do Departamento de Geografia da Universidade Federal do Ceará (UFC), têm mostrado como a implantação do parque eólico tem alterado o ecossistema local. “Nossas pesquisas buscam evidenciar o impacto ambiental e as alterações na dinâmica de movimentação de um dos maiores campos de dunas dessa região e os empecilhos que isso projeta no cerceamento ao amplo acesso à comunidade do Cumbe”, explicou.
Intitulada “Impactos socioambientais da implantação dos parques de energia eólica no Brasil”, a pesquisa é coordenada por Antonio Jeovah, junto com os professores Adryane Gorayeb e Christian Brannstrom. O levantamento mostra que a mudança no uso das dunas e das lagoas interdunares trouxe restrições ao acesso da população ao seu próprio território. O estudo enfatiza que, embora a energia renovável seja necessária, é crucial que sua implementação respeite o equilíbrio ecológico e as comunidades tradicionais.
“O Cumbe é uma comunidade que está sendo de fato encurralada com esses impactos ambientais. Estamos estudando e denunciando o problema. Precisamos das energias renováveis, mas que sejam ambientalmente justas, ecologicamente adequadas e que não privatizem grandes áreas de domínio dessas populações ancestrais”, disse.
Acompanhe mais notícias da Rede ANC através do Instagram, Spotify ou da Rádio ANC.