
A Petrobras anunciou uma diminuição de 4,9% no valor da gasolina comercializada em suas refinarias, válida a partir desta terça-feira (21/10). O preço médio de venda recua R$ 0,14 por litro, passando para R$ 2,71. O diesel, que atualmente opera abaixo das referências internacionais, não sofrerá alteração. O movimento já era antecipado por especialistas: desde meados de junho, a estatal vinha praticando valores acima da paridade de importação, segundo diferentes indicadores, acumulando prêmio médio de até 12% em setembro e de 8% na abertura do mercado desta segunda-feira, equivalente a R$ 0,22 por litro, conforme medido pela Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom).
Ao contrário do que vinha ocorrendo desde o começo da atual administração, a Petrobras evitou estimar o impacto direto ao consumidor nas bombas. O repasse, no entanto, tende a ser limitado pelo peso de outros componentes na composição do preço final. A fração de gasolina pura, a chamada “gasolina A” fornecida pelas refinarias, representa cerca de um terço do valor pago pelo condutor. O restante é formado pelo etanol anidro (30% da mistura), tributos e margens de distribuição e revenda, elementos que o governo Lula vem criticando por, em sua visão, absorverem parte dos cortes realizados nas refinarias. Em um exercício puramente teórico, se a redução de R$ 0,14 fosse totalmente repassada e mantidas as demais parcelas, o alívio potencial nas bombas seria próximo de R$ 0,05 por litro.
Desde dezembro de 2022, a Petrobras acumula redução de R$ 0,36 por litro no preço da gasolina A. De acordo com comunicado da estatal, descontada a inflação do período, a queda real corresponde a 22,4%. O reajuste desta semana também reduz o descompasso em relação ao mercado externo e alivia a pressão sobre importadores e distribuidores, que vinham operando com margens reduzidas ou deslocando volumes.
Inflação
O anúncio teve efeito imediato sobre as projeções de inflação. A Asa Investimentos revisou a previsão do IPCA de 2025 de 4,7% para 4,5%, aproximando o índice do teto da meta perseguida pelo Banco Central. Já a Warren Investimentos reduziu a estimativa para o IPCA deste ano de 4,5% para 4,4%, ressaltando que a gasolina é o item individual de maior peso na cesta calculada pelo IBGE. Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados, também diminuiu a projeção para 2025 de 4,8% para 4,6%; embora em queda, a estimativa ainda permanece ligeiramente acima do teto.
Além do efeito direto sobre os combustíveis, casas de análise observam melhora recente nas coletas de preços de alimentos consumidos no domicílio, com menor pressão dos produtos in natura no quarto trimestre, um fator que reforça a tendência de baixa para o índice geral. No campo dos riscos, seguem no radar uma possível piora do câmbio ou choques em commodities, que poderiam anular parte do alívio.
Desde 2025, o regime de metas de inflação passou a ser contínuo: a meta é considerada descumprida se o IPCA acumulado permanecer por seis meses consecutivos fora do intervalo de tolerância, de 1,5% a 4,5%, com centro em 3%. Em junho, o índice ultrapassou pela primeira vez esse novo critério. Nesse cenário, reduções em preços controlados ou monitorados com grande inércia na cadeia, como os combustíveis, ganham relevância para ancorar as expectativas e abrir espaço, no futuro, para uma política monetária menos rígida. A dimensão desse espaço, contudo, dependerá do repasse nas bombas e da continuidade da desaceleração nos demais componentes da inflação.