Dirigido por Yorgos Lanthimos (O Lagosta), Pobres Criaturas é mais que uma releitura da famosa história de O Monstro de Frankenstein, o projeto vem para debater o que o mundo espera de nós quando jovens, e que nesse período devemos encontrar objetivos e tomar atitudes que sejam de nossos interesses e desejo, não o contrário.
Estrelado por Emma Stone (La La Land), o filme conta a história de Bella Baxter, uma jovem que é trazida de volta à vida pelo cientista Dr. Godwin Baxter, vivido por Willem Dafoe (Homem-Aranha). Com isso acompanhamos a protagonista querendo ver mais do mundo, apesar do cientista não apoiar que ela se aventura mundo afora, seja por mistérios da própria narrativa, ou por medo do que pode acontecer com ela caso saia de casa.
No início do longa-metragem, mesmo estando em um corpo adulto, Bella se comporta como uma criança, onde está aprendendo a falar e a dar seus primeiros passos. Durante esse processo, através de uma fotografia em preto e branco, Godwin ao lado do seu assistente Max, vivido por Ramy Youssef (Mr Robot), analisa o desenvolvimento do seu experimento. No entanto, o personagem de Dafoe se mostra muito apegado a mesma, onde o medo que possui de deixá-la sair de casa, nem que seja para um passeio, não é por vergonha de suas condições, e sim pelo fato de como o mundo irá tratá-la por ser diferente.
Godwin está inserido na história para ser figura paterna a Bella, não apenas no sentido alegórico, pelo fato de ter trazido Bella de volta à vida, mas também por educar e proteger a protagonista. Contudo, nenhum pai consegue segurar sua cria para sempre, e conforme mostrado na narrativa, os desejos de Bella vão florescendo, fazendo com que a mesma sinta o desejo de conhecer mais e se desafiar mais. E mesmo relutante, o pai acaba cedendo, pois sabe que não pode prendê-la para sempre e que a educou para sobreviver ao mundo.
A protagonista conhece e se apaixona por Duncan Wedderburn, interpretado por Mark Ruffalo (Spotlight: Segredos Revelados), e juntos partem por uma viagem ao redor do mundo. A partir disso, o filme deixa de ser em preto e branco, e ganha cores, fazendo com que a fotografia, antes já belíssima, ganhe ainda mais destaque. Robbie Ryan (A Favorita) é o responsável pela cinematografia, onde utiliza muitas curvas em seus ângulos, principalmente nas cenas gravadas com lentes grandes angulares e olho de peixe. Apesar de parecer estranho à primeira vista, é notório que o estilo de filmagem e enquadramento combinam muito bem com o design de produção de Shona Heath (Eye Ear You) e James Price (Star Girl), que usam do estilo steampunk.
Agora viajando pelo mundo, Bella começa a conhecer os prazeres mundanos e carnais, porém, vai se decepcionando ao entender do que o mundo espera quer que ela seja, uma mulher mais acatada, refinada e submissa, mesmo que claramente não faça sentido. No meio de tudo isso é que brilha a atuação de Emma Stone, pois, o que antes era interpretação apenas delicada, se transforma também em um trabalho carismático e cômico. Ao lado de Mark Ruffalo, a atriz estadunidense entrega uma atuação sublime, carregada de sentimentos e uma presença de tela inegável.
Bella decide que não irá se submeter ao que o mundo quer que ela seja, e que fará tudo que acha certo, principalmente no que sua figura paterna lhe ensinou. Nesse processo, a protagonista toma decisões que prejudicam outros personagens, e até ela mesma, mas começa a compreender que muitas pessoas lhe enxergam apenas o que ela é por fora, e não por dentro. Se aproveitando disso, Bella arruma uma maneira de voltar para casa, mas ao chegar ao local a mesma precisa lidar com revelações de seus passado e cobranças de quem ela precisa ser, principalmente em relação a sua “mãe”, já que a mesma é idêntica a ela.
Mais uma vez Bella precisa lidar com cobranças que não deveria sofrer. No entanto, em uma virada de roteiro satisfatória, a protagonista consegue se desprender das amarras sociais e patriarca que a cercam, mostrando ao mundo, e a quem assiste, é ela quem decide o que irá fazer de sua vida e com quem ela irá ficar.
Por fim, Pobres Criaturas é a verdadeira história do autoconhecimento, nos dizendo que não importa o quão parecido você seja com aqueles que lhe conceberam ou o que lhe ensinaram quando mais jovem, na verdade, você decide quem você será e o que irá fazer com a sua vida. Por meio disso, Yorgos Lanthimos dá um show de direção e edição, fora todo o notável trabalho de sua equipe técnica e atuação do elenco que é fenomenal. Não é à toa que o longa-metragem foi indicado ao Oscar em 11 categorias e é com certeza um dos, se não for o melhor, concorrente da premiação em 2024.
Nota: 10/10
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