
Em razão da escassez de chuvas ao longo deste ano, o município de Quixadá, localizado no Sertão Central cearense, perdeu cerca de 85% dos 5.000 hectares cultivados com milho e feijão em 2025. A situação afetou todos os 12 distritos da cidade, impactando diretamente mais de 8 mil produtores rurais. A Prefeitura decretou estado de emergência por conta da estiagem na última segunda-feira (1º).
Segundo o secretário municipal de Agricultura, Fausto Moreno, aproximadamente 4.250 hectares das plantações conduzidas por pequenos e médios agricultores foram perdidos, sem germinação, devido à ausência de chuvas. A área afetada equivale a cerca de 3.935 campos de futebol padrão FIFA (1,08 hectare cada). Em geral, esses produtores cultivam entre 0,6 e 1 hectare por família.
O decreto de emergência de Quixadá foi publicado no Diário Oficial da Associação dos Municípios e Prefeitos do Estado do Ceará (Aprece), na última segunda-feira (1º), com texto revisado na edição do dia 3 de setembro, e destaca que as perdas agrícolas na região diminuem “o padrão de qualidade de vida da população rural, colocando as mesmas em situação de vulnerabilidade”. O cenário também “comprometeu o abastecimento de água em alguns distritos e localidades pontuais do município”, conforme explicou o procurador municipal, Nilo Lopes.
De acordo com Fausto, em comunidades como Cipó dos Anjos, os volumes de chuva não superaram os 250 mm. Já em áreas como Joatama, as precipitações chegaram a cerca de 500 mm, mas foram “muito mal distribuído”.Sem o volume necessário de água, o milho e o feijão não conseguiram se desenvolver adequadamente, explicou.
Os agricultores da região normalmente realizam o plantio nos primeiros meses do ano, contando com as chuvas sazonais para garantir a germinação das sementes. Contudo, neste ano, “faltou o molhado”, como define Marcos Rogério, gerente da unidade local da Ematerce (Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Ceará).
Quem plantou em janeiro ainda conseguiu uma colheita suficiente graças às chuvas de fevereiro e março. “Quem já plantou no final de fevereiro para o começo de março, na hora do enchimento do grão, faltou molhado (chuva)”, afirma.
O prejuízo da produção agrícola fez muitos produtores que possuem rebanho venderem parte dele para repor os valores perdidos. Com a negociação, eles garantem uma renda para manter a outra parte. “Não houve perda de animais, o que está tendo muito é a comercialização de animais”, afirma.
Além disso, as implicações também foram sentidas em outras culturas, como a do algodão. O secretário de Quixadá conta que foi realizada um convênio com a Associação dos Produtores de Algodão do Estado do Ceará (Apaece) para para distribuição de sementes. Dos 40 agricultores contemplados, 35 chegaram a plantar, mas também tiveram perdas expressivas.
“A perda foi grande porque os periquitos, acho que por não ter o milho e o feijão, foram comer a flor do algodão. A produtividade esse ano do nosso programa aqui de revitalização do algodão foi muito baixa por conta disso”.
A quadra chuvosa no município ficou abaixo da média histórica, apresentando uma redução de 30,1%, segundo a Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme). Entre fevereiro e maio, o acumulado foi de apenas 392,8 mm, enquanto a média esperada seria de 562,3 mm.
“Tivemos uma pequena acumulação no açude Pedras Brancas, principalmente entre fevereiro e março. A partir de abril, ele basicamente ficou estável e depois o nível começou a diminuir devido à demanda e à evaporação”, explica Junior Vasconcelos, pesquisador da Funceme.
Com aproximadamente 2 mil km² de extensão, muitas comunidades de Quixadá ficam afastadas da sede do município. “Elas ficam fora do guarda-chuva desse sistema tradicional de abastecimento e precisam de apoio de carro-pipa para abastecimento”, explica o major André Sousa, comandante adjunto da Defesa Civil do Ceará (Cedec).
Diante dessa realidade, a Prefeitura e a Defesa Civil local emitiram o decreto para atender regiões que ainda não possuem cobertura de abastecimento. Com isso, a União pode reconhecer oficialmente a situação e liberar recursos, como os da Operação Carro-Pipa.

A ação de distribuição de água atende, atualmente, pelo menos 112 localidades de Quixadá, conforme informou o coordenador municipal da Defesa Civil, Junior Mourão. Já o gerente da Ematerce, Marcos Rogério, destacou que, nas residências onde havia cisternas, foi possível armazenar alguma quantidade de água — embora insuficiente para encher os reservatórios.
O major André ressaltou que a Defesa Civil, em conjunto com o Comitê Integrado de Segurança Hídrica, segue acompanhando o cenário para planejar medidas emergenciais e evitar desabastecimento. Entre as ações previstas estão a perfuração e recuperação de poços, além da construção de adutoras.