Dirigido por Alejandro Monteverde (Bella), Som da Liberdade é um dos filmes mais marcantes deste ano. Contudo, o projeto não se destaca apenas por sua qualidade técnica, mas também por todas as suas polêmicas e por muitas cenas apelativas.
O Som da Liberdade é inspirado em uma história real, onde fala sobre Tim Ballard, ex-agente do Departamento de Segurança Interna dos Estados Unidos, que investiga uma grande rede de tráfico sexual de crianças. Protagonizado por Jim Caviezel (A Paixão de Cristo), o filme tenta se mostrar como uma história policial ou investigação, só que no final das contas é um longa-metragem sobre pedofiilia.
Tratar sobre esse tema é muito difícil, visto que é um assunto extremamente delicado, e pela minha experiência enquanto assistia, a direção de Monteverde e o roteiro de Rod Barr (Is That You?) não estavam muito preocupados com isso. Apesar de haver cenas bem pensadas e aplicadas sobre essa temática, o filme por vários momentos parece que busca chocar o espectador, como se quisesse mostrar como a pedofilia é deploravel, algo que nem precisa ser exposto de tal forma para explicar isso.
Além disso, da metade para o final do filme, a narrativa começa a inserir mensagens cristãs, e não que isso necessariamente seja ruim. Contudo, não combina com o restante do projeto, que praticamente não possui nenhuma menção religiosa, fora que, a partir do momento que começam a utilizar estas mensagens, elas se tornam muito forçadas.
Estes detalhes se tornam piores quando se descobre as polêmicas em torno do filme, sendo a principal aquela que diz que o projeto está relacionado com o QAnon, uma teoria da extrema-direita estadunidense que afirma existir uma espécie de “elite global” composta por satanistas, canibais e pedófilos que sequestram crianças para beber seu sangue.
Se não fosse o suficiente, Jim Caviezel, o protagonista do filme, já foi visto em eventos relacionados ao QAnon. Além de que, algumas pessoas responsáveis pela difusão dessa teoria da conspiração, já foram apontadas como os responsáveis pelo ataque ao Capitólio em 2021, onde ainda diziam que Donald Trump, que promoveu uma sessão especial do filme, sofria perseguição dessa suposta “elite global”.
Particularmente, não consigo enxergar relação da narrativa do filme com essa teoria da conspiração. Na realidade, acredito que isso seja apenas uma oportunidade vista pela extrema-direita estadunidense para tentar alavancar muitas polêmicas. Contudo, isso não ameniza todas as apelações que o projeto utiliza para chocar o público. Além disso, também há a covardia de colocar uma mensagem nos créditos pedindo para os espectadores comprarem “ingressos solidários”, para que mais pessoas possam assistir essa história, mas no final parece mais uma tentativa de impulsionar os lucros.
Tudo isso se torna pior ao lado de cenas mal montadas, direção medíocre e uma duração esticada, onde se percebe que isso aconteceu apenas para tentar um clímax grandioso. No entanto, se mostra pouco inspirado, não apenas pela direção abaixo da média, mas também pela atuação abaixo da média Caviezel, principalmente quando comparada a do restante do elenco.
Por fim, o Som da Liberdade utiliza de uma história interessante apenas para chocar quem assiste, não com objetivo de ter uma boa narrativa. Além do mais, em poucos momentos do filme o espectador ficará, de fato, interessado no que está vendo em tela, no restante ficará apenas incomodado com que assiste. E mesmo que a arte tenha também a finalidade de chocar e incomodar, isso não é feito direito neste filme, onde não se preocupa em construir um clima para tal, e busca o impacto mais brusco possível.
Nota: 4/10
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* O artigo de opinião representa a perspectiva do autor