A Polícia Federal (PF) identificou indícios de que o deputado federal Junior Mano (PSB) ocupa posição de destaque em um esquema de apropriação de verbas públicas por meio da cobrança de um “pedágio” sobre emendas parlamentares destinadas a municípios. O grupo, segundo as investigações, firmou uma estratégia para desviar parte dos recursos repassados às prefeituras, utilizando a quantia para alimentar atividades ilegais.
Essas conclusões constam na decisão assinada pelo ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), que autorizou a deflagração da Operação Underhand nesta terça-feira (08/07). A ofensiva resultou em mandados de busca e apreensão cumpridos em Fortaleza, Nova Russas, Eusébio, Canindé, Baixio e também na residência e nos escritórios de Junior Mano em Brasília.

Esquema de Retorno
De acordo com a apuração, a prática envolvia a liberação de emendas parlamentares mediante exigência de devolução de valores, que chegava a 12% do total repassado. Conversas reunidas pela PF mostram trocas de mensagens entre Bebeto (PSB), prefeito eleito de Choró e atualmente foragido, e Adriano Almeida Bezerra, assessor direto do deputado.
Nas tratativas, eram discutidos detalhes sobre o fluxo das verbas e o percentual a ser redirecionado. Os trechos interceptados revelam ainda que o grupo mantinha controle constante sobre os repasses, monitorando a liberação dos recursos e o retorno da quantia combinada. Além de custear estruturas de apoio político, os valores desviados teriam financiado campanhas eleitorais e pagamento de influenciadores e comunicadores.
Relatos feitos pela ex-prefeita de Canindé, Maria do Rozário Ximenes, reforçaram o inquérito. Ela relatou ter sido procurada com proposta de repasse de emendas, desde que aceitasse devolver 15% do dinheiro. Na época, Maria do Rozário denunciou o caso à Polícia Federal.

As investigações apontam que o assessor Adriano Almeida desempenhava papel central no esquema. Em um diálogo de setembro de 2024, ele confirma a viabilidade de liberação de R$ 1,5 milhão, deixando claro que 12% da quantia deveria retornar como propina.
Para os investigadores, além de intermediar emendas, Adriano também articulava liberação de transferências voluntárias pela Caixa Econômica Federal. Isso era feito através de empresas de fachada que contavam com servidores e gestores que facilitavam contratações.
Para tentar conter o prejuízo, Gilmar Mendes determinou o bloqueio de R$ 54,6 milhões em contas de pessoas físicas e jurídicas ligadas ao grupo. O objetivo é impedir a movimentação de recursos de origem ilegal e resguardar valores para possível ressarcimento. Os investigados poderão responder por crimes como organização criminosa, compra ilegal de votos, lavagem de dinheiro e falsidade ideológica com finalidade eleitoral.
Deputado nega acusações
A assessoria de Junior Mano afirmou através de nota que o parlamentar não possui qualquer atribuição para contratar ou fiscalizar obras, ressaltando que confia plenamente na Justiça e na Polícia Federal. A equipe sustenta que todas as ações do deputado respeitam a legalidade e reitera expectativa de que os fatos sejam esclarecidos.
“A verdade dos fatos prevalecerá, com o completo esclarecimento das circunstâncias e o reconhecimento de sua correção de conduta”, diz um trecho do comunicado.
Acompanhe mais notícias da Rede ANC através do Instagram, Spotify ou da Rádio ANC.