O setor pecuário brasileiro registra prejuízos anuais estimados em US$ 7 bilhões devido a verminoses, segundo a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). Para reduzir esse impacto, pesquisadores da Universidade Federal do Ceará (UFC), em parceria com a Embrapa, desenvolveram um aplicativo capaz de identificar anemia em pequenos ruminantes. Este é o principal sinal clínico associado ao parasitismo.
O sistema utiliza inteligência artificial para analisar a coloração das mucosas ocular e gengival, substituindo o cartão físico utilizado no método Famacha, referência no controle seletivo de verminose. Disponível gratuitamente para Android, o aplicativo StopVerme indica quais animais devem ser vermifugados, evitando o uso indiscriminado de medicamentos e o desenvolvimento de resistência parasitária.

Cabras e ovelhas, base da caprinovinocultura no Nordeste, figuram entre as espécies mais afetadas pelo problema. A maior suscetibilidade é relacionada a fatores genéticos e ao consumo de pastagens baixas, que favorecem a ingestão de larvas originadas de ovos presentes em fezes de animais infectados. As verminoses evoluem de forma pouco visível e frequentemente passam despercebidas, o que contribui para perdas produtivas.
No processo de desenvolvimento da tecnologia, foram registradas imagens das mucosas e coletadas amostras sanguíneas para comparação com resultados laboratoriais. A pesquisa vem sendo aprimorada desde 2018 e originou trabalhos de conclusão de curso e dissertações vinculadas ao projeto. A Embrapa realizou os testes em seus rebanhos e também com animais de pequenos produtores vinculados ao Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar) e a programas da Prefeitura de Sobral.
A solução está classificada no nível 8 da Escala TRL (Technology Readiness Levels), que avalia o grau de maturidade tecnológica, e já ultrapassou 500 downloads em menos de 20 dias após o lançamento. Para ampliar a acessibilidade, sobretudo em propriedades rurais com diferentes níveis de alfabetização, a interface recebeu ícones e sinalização por cores: verde indica normalidade e vermelho aponta sinais de anemia.

“Durante o período de testes, ao longo das escalas TRL de maturidade, levávamos nossos celulares para serem usados pelos produtores. Depois passamos a enviar o arquivo de instalação para os técnicos que acompanhavam as visitas. (…) A usabilidade é simples e foi bem percebida. Fizemos testes para confirmar a percepção das funcionalidades e seus níveis de eficácia”, comentou Iális Cavalcante, coordenador do projeto, professor do curso de Engenharia de Computação e do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Elétrica e de Computação (PPGEEC) do Campus de Sobral.
O controle seletivo recomendado por especialistas inclui a verificação da cor das mucosas a cada 15 dias em períodos de maior contaminação ou a cada dez dias em áreas irrigadas. O manejo integrado envolve ainda exames periódicos de fezes, higiene nas instalações, rotação de pastagens, alimentação adequada e descarte de animais mais sensíveis aos parasitas.
Duas novas soluções complementares estão em desenvolvimento: uma para levantamento georreferenciado do uso da ferramenta e outra destinada ao suporte nutricional dos rebanhos. O aplicativo, porém, não substitui acompanhamento veterinário ou zootécnico, servindo como apoio diagnóstico no manejo sanitário.
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