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“Um espírito de luta”: Grupo católico LGBTQIAP+ completa 10 anos na capital

Toda quinta-feira, eles encontram um lugar especialmente preparado. Na simplicidade dos gestos, alguns itens não podem faltar: velas, ornamentos cristãos católicos, ícones marianos e a presença da Palavra. Mas o que distingue esse espaço de encontro é um detalhe que o transforma: a bandeira do movimento LGBTQIAP+. Trata-se de um grupo de contemplação, oração e partilha formado por pessoas que, em um passado não muito distante, estavam afastadas daquilo que todo ser humano, de alguma forma, busca preencher: a sua fé.

Grupo celebrou os 10 anos com uma Missa na Paróquia Nossa Senhora das Dores, no Farias Brito

“Eles ressignificam a dor em amor”, diz Hélio Vieira da Silva, estudante de Letras na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), que esteve presente nos primórdios do Diversidade Católica Fortaleza, grupo que agora completa 10 anos de existência. No início, Hugo Nogueira, psicólogo e advogado vindo do Rio de Janeiro, já participava de encontros voltados a essa comunidade na capital fluminense. Inspirado por um ardor pessoal, começou a realizar reuniões na Praça do Centro Cultural Dragão do Mar após se mudar para Fortaleza. E dali foi apenas o começo de uma transformação não só para ele, mas para muitos — entre eles, o próprio Hélio, que se envolveu devido à sua experiência na vida religiosa.

“Eu senti que realmente tive contato com a Igreja de Jesus Cristo. Pessoas excluídas, que estavam à margem. Jesus preferia estar com essas pessoas, e era ali que Ele realizava sua missão”, confessa o estudante, ao afirmar que sair da vida religiosa foi doloroso, mas que encontrou um novo chamado por meio de outro confrade, Frei Lorrane. “Ele me convidou para fazer essa ponte de acompanhamento. Era um caminho de acolhimento dos grupos, para favorecer a estrutura e aproximar as pessoas, para que elas se sentissem acolhidas”, relata.

O grupo também atua nas atividades paroquias, com forte presença na liturgia e grupo de canto

Atualmente, mais de 90 pessoas fazem parte do grupo no WhatsApp, além de um perfil ativo nas redes sociais chamado Porta da Misericórdia, que soma quase 6.500 seguidores. O grupo também se reúne presencialmente na Paróquia das Dores, no bairro Farias Brito. Não há mais razões para se esconder — e um sinal disso foi a chegada do Papa Francisco como líder da Igreja Católica em 2013.

“Nós somos frutos do papado de Francisco. O papado de Francisco tem essa força, mas não apenas na questão LGBT, e sim em relação às minorias. Tudo o que se refere às minorias, às periferias existenciais”, destaca Leonardo Tertuliano, um dos coordenadores do grupo.

 

“Hoje o grupo representa pra mim um caminho de salvação, que muitas vezes eu não consigo corresponder mas é meu caminho de salvação” [Leonardo Tertuliano, coordenador]

 

Ele explica que, a partir do pontificado do Papa Francisco, a Igreja passou a enxergar essas pessoas marginalizadas, e que Deus tem inspirado a formação de diversos grupos semelhantes. Atualmente, há uma rede nacional com quase 30 grupos em todo o país. “Fomos alcançados e somos privilegiados. Sou muito feliz por fazer parte disso. No começo, eu não entendia, mas me permiti permanecer para compreender o que Deus tem guardado e reservado para nós”, reflete.

Para os próximos anos, a atuação pastoral pretende se expandir, com novas iniciativas, como a recente parceria com a Pastoral Carcerária, que apoia a população trans e travesti presente nos presídios estaduais.

O grupo se encontra semanalmente toda quinta-feira, às 19h30

“Nós fomos vistos”, avalia Andrea Rossati, que está à frente do convite feito pela Arquidiocese para que o grupo integrasse esse movimento. “Estamos caminhando para construir uma identidade própria. Em 2025, vamos mergulhar mais nessa identidade e trazer novas ações. O próximo ano terá ainda mais a cara do grupo, pois ele precisa oferecer isso à Igreja. Estamos num processo para encontrar o tom da nossa organização”, finaliza o coordenador. Contamos com isso.

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