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Um Lugar Silencioso: Dia Um e um suspense reflexivo (Crítica)

Dirigido por Michael Sarnoski (Pig: A Vingança), Um Lugar Silencioso: Dia Um não é emotivo como os filmes originais, mas conta uma história reflexiva através de algo que a franquia faz com maestria, que é criar um clima de suspense pouco visto no mercado.

Buscando mostrar o primeiro dia da invasão alienígena que causou apocalipse silencioso, nessa história acompanhamos a personagem Samira, uma jovem mulher que, além de precisar enfrentar os novos desafios deste mundo, está passando por um momento de infelicidade na luta contra o câncer. Ao conhecer Eric, homem com problemas semelhantes, durante este fim de mundo, ambos começam juntos a ter apego a suas vidas.

Diferente das duas produções anteriores, este novo projeto da franquia primeiro nos mostra como o nosso mundo é barulhento e que viver sem fazer qualquer tipo de ruído é algo muito difícil. E não existe cidade melhor para representar isso do que Nova York, uma das maiores metrópoles do planeta. Além disso, nos é exposto à insatisfação da protagonista vivida por Lupita Nyong’o (Nós), não só em relação à sua doença, mas como precisa viver com ela, fazendo com que não tenha mais apreço à sua própria vida.

Com toda essa contextualização feita, o momento que a invasão começa e o silêncio se inicia, o impacto é instantâneo e angustiante. Devido a boa direção e ao design de som, não são apenas os personagens que agora precisam fazer silêncio, a imersão na narrativa é tão forte, que o público também se sente na obrigação de acompanhar tudo silenciosamente, como se fizéssemos parte daquela história.

Agora com o apocalipse instaurado, a mensagem que o filme carrega começa a tomar forma, expondo que ele deseja falar sobre apego e cuidado a vida, ou a falta disso. Isso fica claro quando o governo nacional decide derrubar todas as pontes da cidade, para que nenhum dos monstros possam sair e se espalhar mais. Apesar disso colocar em mais risco os habitantes locais, caso queiram viver, agora eles terão que lutar mais do que nunca pela sua própria sobrevivência, fazendo com que tomem atitudes que provavelmente nunca imaginaram, como matar um homem na frente do seu filho.

Em contraponto a isso há justamente Samira, que não está indo para os barcos da cidade, a única maneira segura de sair do local. A personagem só quer comer um pedaço de pizza ao lado de seu gato, deixando bem claro que ela não deseja mais viver, principalmente nesta nova maneira que o mundo se encontra. Mesmo que isso seja exposto através do desejo pela comida, particularmente, acho admirável o texto do projeto não falar isso explicitamente, visto que ultimamente a maioria dos filmes são muito literais.

No entanto, Samira não esperava que logo seu gato seria responsável por fazer com que Eric, personagem vivido por Joseph Quinn (Stranger Things), embarcasse nessa jornada apocalíptica por uma comida. Como disse anteriormente, o homem tem problemas semelhantes aos da protagonista, mas aparenta estar apenas perdido em todo este caos.

Com os dois juntos, o filme cresce, não apenas pelo talento dos dois atores, mas também porque um é complementar ao outro nessa narrativa. Não é à toa que, no final da história, é praticamente automático pensar como Eric deveria ter entrado antes nessa jornada, fora que são com os dois as melhores cenas de suspense e terror, no qual ainda tem o alto nível dos dois anteriores.

O gato que juntou os personagens é um ponto importante para a história, visto que o roteiro do trio Sarnoski, John Krasinski (Jack Ryan) e Brian Woods (A Casa do Terror) tenta usá-lo para ser algo além de um pet. Na verdade, na minha visão, o animal parece ser uma metáfora para o cuidado e o apreço que precisamos ter com a nossa vida. Samira cuida do gato, já que pertence a ela, mas Eric também faz o mesmo e chega até se arriscar pelo bem dele. Muitos podem achar um absurdo o gato sobreviver a tantas coisas assim, mas é apenas uma licença poética para deixar claro o que o filme quer nos passar.

No final, Samira não encontra a pizza do jeito que queria, mas com a ajuda de Eric fica feliz de uma maneira que não ficava há muito tempo e mantém a sua decisão de como quer terminar a sua história, já que ela pode até pode conseguir sair da cidade, mas não vai escapar do câncer.

Com isso decidido, entrega seu gato a Eric, que com sua ajuda consegue chegar a um barco para escapar. Mas deixa um recado, para cuidar bem do animal, só que quem assistiu ao filme entendeu que, na verdade, é uma mensagem para o personagem também se cuidar. Às vezes a gente parece perdido e não consegue achar rumo, mas sempre tem um jeito para a vida tomar um prumo.

Por fim, Um Lugar Silencioso: Dia Um não tem o mesmo apelo emocional dos dois primeiros filmes e em alguns momentos parece ser desencontrado na narrativa. Mas no final entrega uma história reflexiva recheada de suspense de qualidade. Além disso, ainda mantém o nível de excelência da sonorização e de um clima de tensão na franquia, que é uma das poucas atualmente consagra todos os seus projetos.

Nota: 8,5/10

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