A Notícia do Ceará
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Entidade questiona eficácia e segurança do uso de veneno larvicida no combate à dengue

analise-zika-abrascoUm relatório sobre microcefalia e doenças relacionadas ao Aedes aegypti aponta os perigos das abordagens com larvicidas e nebulizações químicas, conhecidas como fumacê. A nota técnica foi produzida pela Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), com objetivo de orientar políticas públicas no assunto.

Para a associação, a expansão territorial da infestação pelo mosquito atesta o fracasso da estratégia nacional de controle. Além disso, os principais responsáveis por esse desastre são: a degradação das condições de vida nas cidades, saneamento básico inadequado, particularmente no que se refere à dificuldade de acesso contínuo a água, coleta de lixo precária, esgotamento sanitário, descuido com higiene de espaços públicos e particulares.

Epidemia

A análise considera os graves problemas presentes na realidade socioambiental. A distribuição espacial por local de moradia das mães dos recém-nascidos com microcefalia (ou suspeitos) é maior nas áreas mais pobres, com urbanização precária e com saneamento ambiental inadequado.

A Abrasco ainda constata que, na região Nordeste, em especial na periferia das suas regiões metropolitanas, pode ter havido aumento da degradação ambiental. Dentre os motivos, estão: por existirem nelas todas as condições para a manutenção da alta densidade do Aedes aegypti, pelos baixos indicadores de saneamento ambiental, relacionados ao abastecimento de água, ao esgotamento sanitário, à imensa presença de resíduos sólidos junto aos domicílios e às deficiências de drenagem de águas pluviais.

Ainda ressaltou que a utilização continuada de larvicidas químicos na água de beber dessas famílias há mais de 40 anos sem, contudo, implicar na redução do número de casos de doenças provocadas por arbovírus devem ser questionadas. Em 2014, foi introduzido na água de beber das populações nos domicílios e nas vias públicas um novo larvicida, o Pyriproxyfen.

Estratégia

A associação ainda teceu críticas às estratégias adotadas pelo Ministério de Saúde, apontando que o uso de produtos químicos acontece numa escala que desconsidera as vulnerabilidades biológicas e socioambientais de pessoas e comunidades.

“O consumo de tais substâncias pela Saúde Pública só interessa aos seus produtores e comerciantes desses venenos. São insumos produzidos por um cartel de negócios muito lucrativo, que atua em todo o mundo e que, mesmo com evidências dos riscos provocados pelos organofosforados e piretroides, dos quais se conhecem tantos efeitos deletérios, têm tido o apoio de agências internacionais de Saúde Pública, como o Fundo Rotatório da Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) e da Organização Mundial da Saúde (OMS)”, consta.

Além disso, considera que os danos ao ambiente e à saúde humana decorrente do uso de produtos químicos tem efeitos nocivos. Essas consequências seriam desconsiderados e poderiam causar o agravamento das viroses e o surgimento de outras patologias tais como: alergias, imunotoxicidade, câncer, distúrbios hormonais, neurotoxicidade, dentre outras.

Reivindicações

Tendo em vista esse relatório, a Abrasco realizou reivindicações em prol da saúde. Uma delas é a suspensão do larvicida Pyriproxyfen e de todos os inibidores de crescimento como o Diflubenzuron e o Novaluron, ou qualquer outro produto químico ou biológico em água potável. “O conceito de potabilidade da água não pode ser perdido, ele é a chave para as medidas participativas de eliminação de vetores”.

O larvicida já havia sido suspenso no Rio Grande do Sul por ser uma possível ameaça nos casos de microcefalia. Entretanto, o Ministério de Saúde descartou qualquer tipo de ligação entre a substância e a má-formação.

Apesar da proibição no Sul, a substância é utilizada em todos os 184 municípios do Ceará.

Tribuna do Ceará

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