A soma da falta de eficiência produtiva com a necessidade de melhoria do capital humano é uma das principais causas para o baixo crescimento do Brasil nos últimos anos. A análise é do PhD em Economia e professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV-RJ), Pedro Cavalcanti. O especialista critica a utilização dos recursos disponíveis no País, afirmando que não são explorados todos os potenciais. E isto, automaticamente, faz cair a eficiência da produção. Além disso, a educação (um dos fatores que compõem o capital humano) também é um empecilho para o crescimento do País. Ele explica com números: no Brasil, 30% da mão de obra do setor de serviços têm baixa qualificação. Apenas 23% têm alta qualificação com estudos.
“(Os países crescem menos) porque eles têm menos fatores de produção, não é porque eles têm menos capital físico, mas eles têm menos capital humano e menos investimento. É porque eles organizam muito mal estes insumos”, diz o professor., que participou do evento de celebração dos 50 anos da Secretaria do Planejamento e Gestão do Estado (Seplag).
Fatores institucionais também se tornam coeficientes para travar o crescimento brasileiro, como má regulação e burocracia, barreiras comerciais, barreiras na adoção de tecnologia, infraestrutura escassa e de má qualidade, estrutura tributária distorcida, intervenções discriminatórias do Governo nos mercados. “A ideia é que isso faz com que qualquer ambiente de negócios em qualquer lugar do Brasil seja ruim. Isso afeta investimentos e práticas de negócios. Acaba criando condições para uma série de firmas improdutivas”.
Para entender os motivos pelos quais os países são pobres é preciso olhar para dentro e vasculhar as causas aparentes. “Os países são pobres, porque eles têm menos fatores de produção, menos capital físico, menos estruturas, ou têm menos capital humano (educação e mão de obra qualificada) ou são menos eficientes que os ricos”, resume. O primeiro diagnóstico é observar as fontes de atraso”.
EUA e China
Um dos exemplos utilizados por Cavalcanti para mostrar o impacto da eficiência produtiva na economia é a China. O país era três vezes mais eficiente no ano de 2003, em relação à década de 1950. No período de crescimento rápido do país (1978 a 2007), 50% da expansão foi resultado da eficiência produtiva, 40% de investimentos e 10% da melhoria de capital. “Os chineses estavam ficando melhores”, define. Os Estados Unidos também podem ser exemplo. “Se eu trouxesse um trabalhador americano para cá com as mesmas máquinas, ele ia produzir só a metade do que ele produz lá”.
Educação
“Eu não lembro quem falou que o grande milagre do Brasil foi a gente crescer com a educação que a gente tinha (na época de 1968 a 1973, definida como Milagre Econômico). Esse foi o verdadeiro milagre”. Em 1960, a escolaridade média da população adulta do País era dois anos de escola completa, enquanto a Coreia do Sul tinha 4. Em 2010, o Brasil tinha a média de 8 e a Coreia, 12.
Segundo o Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa), no ano de 2012, o desempenho dos estudantes brasileiros em leitura piorou em relação a 2009. O País somou 410 pontos em leitura, dois a menos do que a pontuação na avaliação anterior e 86 pontos abaixo da média dos países da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico. “O impacto do capital humano no produto do trabalhador brasileiro é muito alto. O Brasil vem avançando em alguns estados, como aqui no Ceará, mas continua muito atrás”.
Ambiente de negócios
O professor da FGV considera que o ambiente de negócios do Brasil é “muito ruim”, o que se soma aos pontos que não permitem o crescimento econômico do País. Pesquisa feita pela World Bank Enterprise Surveys mostra que a carga tributária e o ambiente de impostos no Brasil são grandes entraves para a realização de negócios. “Então, são dois problemas afetando os dois setores (importantes)”.
América Latina
Parte da desaceleração do crescimento do Brasil desde 1985 até hoje tem a ver com a desaceleração de toda a América Latina (AL). Pedro Cavalcanti sublinha que de 1985 a 1994, o Brasil crescia 2,85% ao ano, colado à AL, que crescia 3%. De 1995 a 2002, o Brasil avançava 2,4%, enquanto AL estava a 2,1%. De 2003 a 2010, foram 4% e 4,3%, respectivamente. No período de 2011 a 2014, o Brasil começou a ficar para trás, crescendo 2,2%, contra os 3,5% da América Latina. “A gente está com um crescimento mais baixo que o normal”, considera.
Pela análise do economista, parte da desaceleração tem um componente muito específico. “A minha leitura é que a gente tem um diagnóstico equivocado, de o Brasil ter um problema de demanda. Houve várias políticas que afetaram a eficiência brasileira, que afetaram o ambiente de negócios”.
O diagnóstico
POR PEDRO CAVALCANTI
Ineficiências produtivas e capital humano explicam nosso atraso relativo;
No primeiro caso, o ambiente de negócios é chave com reformas institucionais e estruturantes, como simplificação tributária, melhor regulação, regras estáveis, infraestrutura e abertura econômica. Políticas do lado da oferta;
Setor de serviços é a chave e aqui, além de ambiente de negócios, educação e qualificação são chaves;
“Se o problema é ineficiência produtiva, capital humano é para onde você tem que olhar”.
O.P.Online