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O Garoto e a Garça através da jornada de seguir em frente (Crítica)

Dirigido por Hayao Miyazaki (A Viagem de Chihiro), O Menino e a Garça é mais uma jornada estranha, porém, reflexiva e bela do Studio Ghibli. O filme consegue te trazer pensamentos e mensagens de maneiras que talvez você não imaginasse receber, para no final nos contar que certos momentos coisas ruins acontecem, mas depois tudo pode ficar bem. 

O filme é focado em um menino de 12 anos chamado Mahito, onde está lutando para se estabelecer em uma nova cidade após a morte de sua mãe. No entanto, quando uma garça falante conta para o protagonista que sua genitora ainda está viva, ele entra em uma torre abandonada em busca dela, o que o leva para outro mundo.

Elogiar a animação e o traço utilizado nos projetos do Studio Ghibli é o equivalente a tecer elogios a uma obra de Vincent van Gogh, ou seja, é dizer o óbvio. Porém, como às vezes é importante falar o óbvio, digo com tranquilidade que mais uma vez Hayao Miyazaki ao lado de Yôji Takeshige (Vidas Ao Vento), conseguem combinar uma animação caprichada a um estilo de desenho delicado, combinando à história quase lúdica.

As histórias assinadas por Miyazaki são famosas por serem confusas ao público comum, onde é necessário pegar um subtexto e mensagem que o cineasta quer passar. Em O Menina e a Garça não é diferente, em meio aquela enorme fantasia, acompanhamos o protagonista tendo que lidar com a morte de sua mãe, ao ponto de automutilar. Portanto, não é exagero interpretar que tudo que acompanhamos talvez seja a imaginação de Mahito.

The Boy and the Heron: Hayao Miyazaki and Studio Ghibli at their best - Vox

Lidar com a perda de alguém é sempre algo muito difícil, principalmente para crianças que não entendem bem o mundo e muito menos entendem eles mesmos. Não é à toa que Mahito ao mudar de cidade, é mais recluso com todos à sua volta, e até chega a ser violento com seus colegas de escolas. 

Esse processo de luto pode ser interpretado além do protagonista, uma vez que Natsuko, a tia do mesmo, também está tendo que lidar com a perda de sua irmã, e é por meio de uma aceitação de Mahito para ela ser sua nova figura materna, que a personagem tenta encontrar um conforto. 

Luto é um processo complicado e muito individual, não é à toa que Mahito continua relutante com a perda de sua mãe. Isso faz com que toda sua relação com a garça também possa ser interpretada como um processo de aceitação para a morte de sua genitora, visto que a ave diz ao protagonista que ela está viva e ele parte em uma aventura para ter certeza do mesmo. Apesar de eu não gostar muito da ideia de tudo que acompanhamos ser fruto da imaginação de Mahito, isso também pode ser visto como dúbio, já que a narrativa não deixa isso claro, deixando a escolha do espectador.

Contudo, minha experiência no filme foi que parte da narrativa é enfadonha, dando a entender que toda a história poderia ser menor. Sendo tudo isso, principalmente, no segundo ato, onde acompanhamos várias metáforas e analogias de nascer e morrer. Apesar de casar com a proposta de Miyazaki para o filme, isso acaba esticando o filme de maneira desnecessária.

O terceiro ato é um fechamento praticamente perfeito, com o protagonista entendendo melhor o que é a jornada da vida e que ela, apesar de momentos dolorosos, precisa continuar. Além disso, mostra que tudo está em nossas mãos, mesmo que seja difícil fazer escolhas certas, sempre há quem possa nos ajudar, sejam pessoas presentes ao nosso lado ou ensinamentos dos que já partiram.

Por fim, O Menino e a Garça é mais uma jornada doce, delicada e cheia de nuances do Studio Ghibli, nos fazendo pensar de várias etapas da vida da maneira mais diferente. Mesmo que o projeto se estique e pareço um pouco perdido, sempre é possível se encontrar para seguir em frente para uma boa vida, assim como Mahito fez, agora com novas pessoas no seu cotidiano, mas com outros que já se foram na memória e no coração.

Nota: 9/10

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