A Petrobras começa a desativar a atuação de sondas de exploração no Ceará. Em terra e no mar. Isso pode, em médio prazo, reduzir a produção de petróleo no Estado, que já não é tão representativa. Outras consequências são redução de arrecadação de royalties, além de afetar negócios dos fornecedores locais da estatal e gerar possíveis demissões. Não há confirmação sobre a paralisação de todas as sondas.
Os municípios sofrem principalmente com a perda royalty, que é uma compensação financeira devida pelas empresas que produzem petróleo e gás natural. Além de produzir, basta passar um oleoduto ou petróleo cru para receber. Em 2015 (de janeiro a novembro), o Ceará recebeu R$ 44,8 milhões, dos quais R$ 12,1 milhões para o Estado e R$ 32,7 milhões distribuídos entre os 82 municípios que recebem.
Por exemplo, o município de Aquiraz recebeu R$ 2,62 milhões; Aracati, R$ 3,7 milhões; Caucaia, R$ 2,4 milhões; Fortaleza, R$ 4 milhões; Horizonte, R$ 2,9 milhões; Itapipoca, R$ 4,9 milhões; Maracanaú, R$ 2,3 milhões e Paracuru, R$ 1,3 milhões.
Conforme O POVO apurou, a Unidade de Negócios de Exploração e Produção do Rio Grande do Norte e Ceará era signatária de contratos para o serviço de três sondas off-shore – chegou a ter quatro. Agora, vai ter somente um equipamento desses, revelou o vice-presidente do Sindicato dos Petroleiros do Ceará e Piauí (Sindipetro-CE/PI), José Jorge Oliveira.
O Ceará produz atualmente em mar, com nove plataformas, cerca de 4,6 mil barris de petróleo por dia. Uma delas produz aproximadamente 1.000 barris por dia. “Todos os poços no Ceará são maduros, ou seja, estão na terceira fase de bombeamento. São necessários dois mil metros de cabo dentro do poço. Esse motor queima ou fica defeituoso. A sonda retira a bomba e coloca outro”, explica, afirmando que a tendência é reduzir para pouco mais de 2,3 mil barris por dia, com a desativação de sondas.
Jorge ressalta que o custo de uma sonda é muito alto. O valor pago por uma diária é de aproximadamente US$ 8 mil, a depender do tamanho do equipamento, explica Jorge, que é técnico industrial na Petrobras há 30 anos.
On-shore
Em terra, ele afirmou que as sondas de exploração também serão desativadas. Lembrou que a previsão de perfuração on-shore para 2015 era de cerca de 1.000 novos poços no Ceará. Foram perfurados cerca de 400. Para 2016, na Fazenda Belém, próximo a Icapuí, por exemplo, estavam previstos serem perfurados mais de 60 poços. “Foi tudo cancelado”, afirmou.
O plano da estatal é desativar sondas de perfuração terrestre em pelo menos seis estados. Além do Ceará, Espírito Santo, Rio Grande do Norte, Bahia, Alagoas e Sergipe. Está contemplado no corte de US$ 32 bilhões do Plano de Negócios 2015-2019, atualmente em US$ 98,4 bilhões.
“A Petrobras está vivendo o momento de regime de caixa. Dentro desse aperto de cinto para fazer caixa, está optando na exploração também. Inegável que o interesse da Petrobras é o pré-sal. Na Bahia, os poços on-shore estão sendo simplesmente desativados. O próprio Bendine disse que os cortes se estenderiam por vários estados”, analisou o consultor em petróleo e gás, Bruno Iughetti.
Para Bruno, a desativação de sondas está dentro da coerência do momento da estatal. Para ele, inclusive pode afetar a atuação da Refinaria Lubrificantes e Derivados do Nordeste (Lubnor), que utiliza basicamente o refino de óleo produzido no próprio Ceará. “É preocupante e estamos antevendo problemas sérios”.
Saiba mais
Superestimada
Uma fonte ligada a Petrobras que preferiu não se identificar analisou que a estatal vinha fazendo uma série de perfurações sem se preocupar com o custo.
Funcionários sobrando
Afirmou ainda que a Petrobras tem mais de 20 mil funcionários sobrando. “É uma situação dramática. A discussão é que a Petrobras não tem como continuar exploração sem refazer sua gestão. Tem mesmo que reduzir custo e rediscutir toda a estrutura dela”, ressaltou. Afirmou que a estatal precisaria demitir quase metade do pessoal. “Estava superestimada. Agora tem que pegar cada custo dela e examinar o que fazer.”
O.P.Online