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Açude Lontras: conheça a obra hídrica no Ceará que não sai do papel há mais de 100 anos

De acordo com a população que necessita da obra, a construção da barragem do Açude Lontras vai para além da questão hídrica - (Foto: Reprodução/Internet)
De acordo com a população que necessita da obra, a construção da barragem do Açude Lontras vai para além da questão hídrica – (Foto: Reprodução/Internet)

Condições sociais, humanas, econômicas e sustentáveis. Vários pontos, que podem ir além dos citados, podem ser afetados com a construção (ou não) de uma determinada obra pública. A depender da área, a população local pode sofrer efeitos incalculáveis, que podem perdurar por gerações. Essa descrição pode ser facilmente atribuída a uma importante pauta do interior do Ceará. Situada em Ipueiras, a 314km de Fortaleza, a barragem do Açude Lontras é uma obra que continua apenas no papel há 105 anos.

A título de contexto, o açude é batizado dessa maneira por estar localizado no distrito de São José das Lontras. De forma mais específica, a construção da barragem seria elaborada no pequeno povoado de Jacaré. De acordo com moradores locais, a confecção da barragem significa bem mais do que garantir a segurança hídrica. Há mais de um século, a população da região aguarda o equipamento para ter condições viáveis de desenvolver as únicas atividades de renda do povoado: pecuária, plantio irrigado e psicultura.

Os prejuízos pela ausência da barragem são enormes. A falta de água para alimentar o gado já matou centenas de rebanhos. A escassez do recurso hídrico afeta a saúde pública e contribui para o aumento da fome. Os depoimentos dão conta de dezenas de famílias que acarretam doenças por conta da ingestão de água imprópria para o consumo. 

O cenário provoca a revisitação a um período histórico do Nordeste: o êxodo rural prejudica o desenvolvimento local e faz com que moradores do distrito procurem oportunidades em outras cidades. Como se não bastasse a série de prejuízos, a situação não é esperançosa: ainda não há previsão de quando a construção da barragem será iniciada.

Orçamento

Entre várias especulações de orçamento, estima-se que sejam necessários R$600 milhões para o custeio do projeto que deve beneficiar onze municípios do Ceará. Além de Ipueiras e de outras cidades dos Sertões de Crateús, municípios como São Benedito e Croatá, na Região da Ibiapaba, também seriam contemplados com a construção da barragem. Assim, cerca de 500 mil pessoas seriam impactadas com o equipamento de 1,4 km de extensão e 57 metros de profundidade.

Promessas

Segundo pesquisadores de Ipueiras, a primeira versão do projeto data de 1922. Conforme levantamentos locais, o projeto mais recente, adaptado às realidades da época, está pronto desde 2014. Conforme moradores do distrito, dos gestores das cidades que seriam impactadas, apenas Ronilson de Oliveira, prefeito de Croatá, teria se engajado publicamente nas cobranças pela demanda.

Uma pauta mais do que centenário não ficaria de fora das principais promessas de campanhas políticas e de gestores com mandatos. No dia 2 de abril de 2013, a presidente Dilma Rousseff veio ao Ceará para assinar o termo de compromisso da construção da barragem. 

Na ocasião, Rousseff assinou o termo junto ao então governador do Estado, Cid Ferreira Gomes. Residentes da localidade relatam que cerca de 30 mil famílias esperavam, nessa época, receber as indenizações por desapropriação O repasse nunca aconteceu. Em entrevista à imprensa local na época em que foi secretário de Recursos Hídricos, Francisco Teixeira declarou que a obra era importante, mas que o Governo possuía outras prioridades para aquele momento.

Engajamento

A pauta foi comentada ainda em outras gestões. Apoiador do presidente Bolsonaro no tempo em que foi deputado estadual, Delegado Cavalcante afirmou que levou o assunto ao ministro da época. No entanto, assim como os demais, o titular da pasta responsável não conseguiu tirar a barragem do papel.

“Temos um grande problema para resolvermos: o abastecimento de águas na serra do Tianguá. O açude Jaburu tem um problema na barragem e todo ano o Governo do Estado joga cimento dentro dela. Tem perigo de arrombar. Outra obra importante para o abastecimento humano e do agronegócio é a construção da barragem do Lontras. Entregamos ao ministro”, relembrou. 

Segundo o que foi apurado junto ao movimento que lidera a cobrança pela barragem, deputados como Eunício Oliveira e Zezinho Albuquerque encabeçam a luta para que o sonho da comunidade possa ser concretizado. O grupo também conta com o apoio da senadora Augusta Brito. 

Para o deputado estadual Daniel Oliveira, é possível cogitar a concretização desse projeto. “Lontras já, já será uma realidade para essa região, pois é um trabalho de muito tempo. Eu já vi sonhos como esse serem realizados. Eu destaco até Crateús, com o Lago de Fronteiras. Por que não sonhar Lontras? Conheço essa luta e compartilho da dor dessa região. Quero ser mais um na voz forte para que a gente possa trabalhar juntos e trazer esse benefício a todos. Água é vida”, declarou o parlamentar.

Cobranças

Elson Silva, ipueirense que tem realizado cobranças pelas redes sociais e de forma presencial - (Foto: Reprodução/Redes Sociais)
Elson Silva, ipueirense que tem realizado cobranças pelas redes sociais e de forma presencial – (Foto: Reprodução/Redes Sociais)

Em visita ao Ceará na última sexta-feira (19/01), Luiz Inácio Lula da Silva inaugurou a pedra fundamental do ITA, que terá um campus na capital cearense. No anúncio do investimento educacional, o presidente também foi cobrado pela antiga demanda do município de Ipueiras. O responsável pela reivindicação foi Elson Silva, jovem ativista da causa. 

De posse de bandeiras e cartazes, o líder do movimento de cobrança trouxe frases de efeito que alertam para a necessidade da construção da obra que já se arrasta por 105 anos. “Crianças, jovens e idosos estão com sérios problemas renais por ingerir água poluída. Todos os poços que foram cavados na região estão secos e a água que tem não é adequada para o consumo humano. Esse problema já teria sido solucionado se a barragem fosse concluída”, alerta Elson.

 

Além de comparecer de forma presencial, Elson passou a utilizar as redes sociais para ampliar o campo de cobranças da demanda hídrica. Porém, sua imagem já é carimbada em eventos políticos da região. Essa não é a primeira vez que o personagem pede uma resposta às autoridades. No início deste ano, na entrega de obras no município de Guaraciaba do Norte, o governador Elmano de Freitas esteve presente na sede da cidade. Na ocasião. Elson Silva também compareceu com cartazes e bandeiras para solicitar uma resposta junto ao Governo do Estado.

“Poços artesianos secos e com água inapropriada para o consumo humano. Isso gera crise hídrica e de saúde. Apesar do solo rico e propício a diferentes cultivos, as plantações não sobrevivem. O problema já teria sido solucionado se a construção da barragem tivesse sido concluída. No entanto, a obra nem sequer iniciou. Estamos aguardando um milagre”, lamentou.

De quem é a culpa?

Há o rumor de que a Superintendência de Obras Hidráulicas do Ceará (Sohidra), responsável por tocar a execução, esteja aguardando o recurso para a construção do açude Lontras. A REDE ANC entrou em contato com o Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional (MIDR). De acordo com a pasta, a obra foi excluída do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).

“A obra foi excluída em 2013, uma vez que o estado do Ceará não apresentou a documentação técnica necessária na época, e o Governo Federal concluiu que a obra não era viável. O então Secretário de Recursos Hídricos, Francisco José Teixeira, cancelou o empenho, e o processo foi encerrado”, esclareceu.

A REDE ANC entrou em contato com a Secretaria dos Recursos Hídricos do Ceará e com a Superintendência de Obras Hidráulicas. Até o fechamento da matéria, não foi obtido um retorno.

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